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Opinião|Roberto Duarte explica saída do Teatro São Pedro

O meio musical paulista foi sacudido hoje com a decisão do maestro Roberto Duarte de deixar a direção artística do Teatro São Pedro. Em entrevista concedida agora há pouco ao Estado, ele alegou diferenças com a direção executiva do Instituto Pensarte, organização social que desde o início do ano é responsável pela gestão do São Pedro. "Na prática, o que se configurou foi algo inusitado: a remoção de quaisquer poderes de decisão, quanto ao repertório, daqueles que são os reais profissionais da área, isto é, o Diretor Artístico e o Regente Titular da Orthesp. Por considerar tais atitudes pouco elegantes, desrespeitosas e não dignas em relação a mim como profissional e ao que tenho produzido até hoje no Brasil e no exterior, além de divergir do modus operandi do Conselho", disse ele. Abaixo, a íntegra de uma carta redigida pelo maestro sobre seu pedido de demissão.

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Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

"Desde a sua fundação a Orquestra do Theatro São Pedro passou por períodos de dificuldades e incertezas. Inicialmente a incredulidade da criação. Abro um parêntese aqui para lembrar que todo o processo de seleção de seus instrumentistas foi realizado com a maior lisura, em total anonimato! Só viemos a conhecer os seus integrantes no primeiro dia de ensaio. Posteriormente a dúvida da sobrevivência. Em novembro de 2010 superamos com coragem e determinação a gananciosa ideia, fomentada por alguns, de "fundir as três orquestras" geridas pela APAA para formar uma "super orquestra". Em fins de 2011, com a mudança da Organização Social gestora, veio o fantasma da demissão. Com o firme e necessário apoio do Dr. José L. Herência e do Dr. Luis Sobral, da Secretaria de Estado da Cultura, e do Dr. Heraldo Marin, vimos, coroados de êxitos, os novos contratos com o Instituto Pensarte. A esperança de novos e produtivos dias iluminava, então, o horizonte da Orthesp. Nos primeiros dias do mês de fevereiro foi criado o Conselho Artístico-Administrativo do Theatro São Pedro, ficando assim a Orthesp a ele subordinada. Nossa participação, natural e obrigatória, neste colegiado foi minimizada ao nos ser concedida, a mim e ao Maestro Patarra, Regente Titular, apenas voz em suas reuniões. O voto, entretanto, nos foi negado. Ainda assim, havia de nossa parte bastante otimismo na esperança e no desejo de poder realizar mais, agora com a ajuda de um Colegiado. Na primeira reunião surge a surpresa. Alguns de seus membros foram enfáticos ao criticar de forma acerba e exacerbada todo o trabalho por nós desenvolvido nestes quase dois anos de sua existência. É óbvio que a crítica construtiva é sempre necessária e útil, mas a destrutiva não! A Temporada 2012, que já estava elaborada desde fins de 2011 e apresentada ao Dr. José L. Herência e ao Instituto Pensarte, foi avaliada pelo novo Conselho e considerada "acima das possibilidades financeiras". Uma nova Temporada, então, nos foi solicitada para que a adequássemos às precárias condições que nos foram oferecidas. Realizadas as modificações necessárias apresentamos no dia 06 de março exatamente o que nos foi solicitado. Para outra surpresa nossa, houve questionamento, agora não na parte financeira, mas em relação à parte técnica. Finalmente o Conselho decidiu mudar não só um dos títulos, mas também o autor, com alegações técnicas que, com todo o respeito, o que eu absolutamente não concordo. Na prática, o que se configurou foi algo inusitado: a remoção de quaisquer poderes de decisão, quanto ao repertório, daqueles que são os reais profissionais da área, isto é, o Diretor Artístico e o Regente Titular da Orthesp. Por considerar tais atitudes pouco elegantes, desrespeitosas e não dignas em relação a mim como profissional e ao que tenho produzido até hoje no Brasil e no exterior, além de divergir do modus operandi do Conselho, sobretudo, de alguns conselheiros e, finalmente, para manter um mínimo de dignidade de minha parte e não me tornar um títere nas mãos do Conselho, apresentei por telefone o meu protesto ao Sr. Diretor Executivo do Instituto Pensarte, no dia 07 de março. Perguntado se seria minha última palavra respondi-lhe que existe sempre uma penúltima palavra. Aguardei em vão por mais de 48 horas uma manifestação do Instituto, só me restando, com pesar, uma única alternativa: entregar o cargo de Diretor Artístico da Orquestra do Theatro São Pedro. 12 de março de 2012 Roberto Duarte"

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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