Havia, desde o começo de 2010, uma comissão montando uma programação para o centenário. Klein chegou no meio do caminho e quis dar a sua cara à programação. Óperas foram canceladas, artistas desconvidados, num vai e vem que pouco deve ter colaborado para a credibilidade da casa. Além disso, a reforma sem fim do teatro, atrasando a sua reabertura, só tornou ainda mais incerto o tão esperado renascimento da programação. Por tudo isso, se chama a atenção pela rapidez, a saída de Klein não chega exatamente a ser surpreendente.
O primeiro anúncio da contratação de Klein o colocava como regente-titular da Sinfônica Municipal. No entanto, poucos dias depois, quando o entrevistei para o Caderno 2, ele falava que assumia a função de diretor artístico. Fontes ligadas à direção geral do Municipal me procuraram, então, para dizer que ele era apenas regente titular. No final do ano passado, quando perguntei ao secretário Carlos Augusto Calil sobre a questão, ele foi categórico em dizer que não havia vácuo de poder no Municipal e que Klein era sim o diretor artístico. Disse mais: todos os candidatos ao posto, entrevistados por ele, deixaram claro que só assumiriam a OSM caso fossem também responsáveis pela direção artística global do teatro, o que englobaria outros corpos estáveis e as escolas de música e bailado. A saída de Klein, agora, mostra que o vácuo existia.
Esse contexto, porém, não é novo. E mais do que demonizar Klein como um traidor que abandona a causa em um momento delicado ou beatificá-lo como um heroi que tentou, sem sucesso, mudar o sistema, acho importante reconhecer que ele é apenas mais um personagem de uma história na qual os protagonistas são o caos administrativo e o descaso com que o Municipal vem sendo tratado ao longo dos anos. A angústia com a programação no ano do centenário é compreensível, mas há algo muito mais amplo em jogo. Teremos Rigoletto, Valquíria? Ao que tudo indica, sim. Mas essa discussão não pode mascarar o problema maior, que é a falta de um projeto artístico consistente para o Municipal. A atual gestão começou os trabalhos de maneira promissora, com a central de produção e a tentativa de formatação de um esquema próprio de produção; sete anos depois, no entanto, o teatro começa o ano fechado, sem garantias de reabertura (a data informada, em junho, é tão garantida quanto as tantas outras já divulgadas nos últimos meses), sem programação, sem diretor artístico, com salários atrasados (os vencimentos de dezembro e janeiro ainda não foram pagos).
Recorrer ao projeto que transforma o Municipal em uma fundação como solução para todos os problemas é igualmente ilusório. Ele pode ser importante mas, antes de definir como o teatro vai funcionar, é preciso saber para que ele deve funcionar. E o que se percebe hoje é justamente a ausência de um plano artístico consistente para o Municipal. O esvaziamento, nos últimos dois anos, da temporada do teatro, está enfim cobrando o seu preço. E a atual gestão chega ao ano do centenário levando o teatro em direção à irrelevância. Não será a presença ou não de um concerto de gala ou uma ou outra ópera que vai resolver essa questão.