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Opinião|Escândalo em Bayreuth: atitude correta ou hipocrisia?

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Foto do author João Luiz Sampaio
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E o Festival de Bayreuth volta às manchetes - mais uma vez por assuntos que nada tem a ver com a música. No fim de semana, o barítono russo Evgeni Nitkin abandonou o papel-título de uma nova produção de "O Navio Fantasma", que abre na quarta o festival anual dedicado à obra de Richard Wagner, depois que a televisão alemão mostrou vídeos da época em que ele tocava em uma banda de rock e, sem camisa, deixa à mostra uma suástica tatuada no peito. Em um comunicado, ele disse que aquilo foi uma estupidez de juventude - e algumas imagens mostram que, com o tempo, ele fez outras tatuagens com o objetivo de encobrir o símbolo associado ao nazismo. Ainda assim, o festival resolveu substitui-lo. O tema é sensível. Wagner foi o compositor oficial do Terceiro Reich - e, durante sua permanência no poder, Hitler foi figura constante em Bayreuth, onde mantinha relações próximas com a então diretora do festival Winifred Wagner, nora do compositor.

 Foto: Estadão

Hoje pela manhã, no entanto, a postura do festival - que esperava, com a substituição do cantor, encerrar o assunto - começou a ser questionada. O diretor artístico da Ópera da Bavária, Nikolaus Bachler, qualificou a decisão de trocar o cantor de "hipócrita". "No caso Nitkin, vejo um problema mais da família Wagner do que do cantor. É uma enorme hipocrisia que justamente a família Wagner (Katharina Wagner e Eva Wagner-Pasquier, bisnetas do compositor e diretoras do festival) castiguem a loucura de um jovem roqueiro de 16 anos que há muito tempo já mostrou seu arrependimento", disse ele à agência EFE. A crítica Eleanore Büning, em artigo no "Frankfurter Allgemeine Zeitung", segue na mesma linha, mas é mais contundente. Diz que o festival sabia das tatuagens e só resolveu se pronunciar sobre elas depois que foram mostradas na televisão. E arremata: episódios como esse só ajudam a mostrar que está mais do que na hora da família Wagner abrir e exorcizar a história de sua relação/colaboração com o nazismo.

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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