Sua agenda passou a ser orientada pela pauta eleitoral até mesmo do ângulo geopolítico, o que a faz somar cinco visitas a Minas Gerais, reduto de seu principal oponente, senador Aécio Neves (PSDB), em dois meses. Tal evidência podia merecer a gentileza de poupar a todos da afirmação de que não tem tempo para pensar em eleição porque precisa governar. Soa cínico.
É também o calculismo eleitoral que leva a campanha do PSB a privilegiar, nessa primeira etapa após a aliança com a Rede, a ex-ministra Marina Silva como porta-voz das críticas à presidente Dilma Rousseff e seu governo. Faz parte da estratégia de aproximar Marina do empresariado, que precisa ser convencido de sua sintonia com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no setor econômico.
A platéia para a qual tem falado nos últimos dias é a mesma em que concorrem, há pelo menos um ano, Campos e Aécio Neves, com ampla receptividade tanto para as críticas à gestão atual da economia quanto para as saídas que apontam para a retomada do crescimento. A aliança com Marina, no primeiro momento, foi avaliada como ruim para Campos nesse segmento, que dela cultiva a imagem de dogmática na defesa da preservação ambiental.
Marina está levando a esse público, como também seu, o diagnóstico de Eduardo Campos sobre a gestão do governo Dilma, seu flerte com o tripé que sintetiza o programa vitorioso de estabilidade de Fernando Henrique Cardoso, mantido por Lula, a cuja relativização se atribui a progressiva anemia da economia. Poupam Lula pela deterioração da confiança dos investidores ao louvar sua preservação do modelo, restando a Dilma a responsabilidade por alterá-lo.
A estratégia denuncia a face vulnerável da aliança Campos/Marina - as diferentes visões para o desenvolvimento, que o governador tenta desajeitadamente inserir em seu padrão de governança, mas que precisará passar pelo teste prático nos debates no curso da campanha. Se Dilma precisa resgatar a confiança do mercado, a dupla do PSB precisará conquistar a do eleitor e dos segmentos com influência sobre ele, da viabilidade de conciliar as diferenças.
O que se vê hoje nos jornais é o retrato do que ocorrerá em boa parte da campanha, com os atores protagonistas nas pesquisas em segundo plano a embalar as candidaturas de seus aliados. Dilma em Minas e Lula preparando a incursão pelo nordeste. Marina desafiando a presidente naquele que é seu ponto vulnerável, a desconfiança do empresariado, enquanto Campos lapida o discurso para o público da Rede.
O contexto ainda reflete o impacto da aliança inesperada entre Campos e Marina, o que torna compreensível o tempo nublado sobre a candidatura de Aécio Neves. Se já sofria os efeitos da campanha desigual, disfarçada de governo, feita por Dilma, o senador mineiro ficou duplamente ofuscado pelos movimentos das últimas semanas.
Mas é nuvem passageira, dita a lógica política, cuja dinâmica cuida de restabelecer o equilíbrio na disputa. Aécio ainda é a aposta do segundo turno, até que o tempo cuide de consolidar a chapa Campos/Marina com suficiência necessária para avaliação mais consistente das chances de cada candidatura.
O momento é de afirmação de Marina que, por isso, ganha o palco da aliança com o PSB, para espantar os fantasmas que ainda assustam o estabilishment - bem ou mal decisivo para quem tem a pretensão de chegar ao posto máximo do país.