A combinação dos índices de preferência por Dilma em 43% com os de queda na aprovação pessoal e de governo indica que a insatisfação da população com a gestão petista não se materializou em votos para os candidatos de oposição. Ou seja,não são vistos como solução para o que se percebe errado.
Certamente contribui para esse cenário o fato de os maus resultados na economia não alterarem a sensação de bem estar da população, que ocorre quando o efeito inflacionário se faz sentir no cotidiano do cidadão, assim como o nível de emprego começa a cair. Nem uma coisa e nem outra acontece ainda em proporção suficiente para abalar a estabilidade da presidente nas pesquisas. E a incógnita é se ocorrerão antes das eleições.
Além de mostrar que a estratégia do governo de administrar a crise adiando os ajustes para 2015 vem dando certo, a pesquisa revela o grau de dificuldade da oposição em reverter essa equação em curto espaço de tempo, como o que caracteriza a atual campanha. Na prática, será uma campanha de dois meses, que começará de fato para o eleitor, após a Copa do Mundo.
Embora tecnicamente os números indiquem a possibilidade de vitória da presidente em primeiro turno, como deseja o PT, essa previsão continua temerária, pois as variações a favor da oposição devem ainda ocorrer , embaladas por outros aspectos negativos registrados na pesquisa, como segurança pública e o aumento do custo de vida, percebido por 77% da população.
A oposição, portanto, depende mais dos erros do governo do que de sua capacidade de catalisá-los a seu favor. Não há proposta concreta de mudanças que aponte caminhos alternativos, que emocionem o público. As diretrizes lançadas são genéricas e a concentração dos candidatos parece ser excessiva na costura das alianças, importantes para o contexto geral da eleição, mas de natureza interna.
A informação que chega ao grande público é a de que alguns partidos se unem contra o governo, mas a movimentação política é percebida como interna corporis - e não há nada mais monótono do que os enredos partidários , que produzem farta matéria-prima para o carnaval, mas não têm qualquer efeito na intenção de voto.
A saudável pauta emanada das ruas em junho passado,foi transformadaem um imenso e infrutífero debate sobre a forma dos protestos, abandonando-se os conteúdos trazidos no primeiro momento pelas manifestações. A introdução do elemento violência nos protestos desviou o foco dos problemas centrais e hoje o debate está resumido ao uso de máscaras.
Se esse foi o objetivo dos que infiltraram a violência nos protestos, ele tem sido plenamente alcançado. O fato contribuiu para a anemia do discurso oposicionista, embora não sirva de pretexto para justificar a insuficiência demonstrada até aqui.
O governo, de sua parte, cumpre com indiscutível disciplina o roteiro traçado para explorar ao máximo a visibilidade do cargo presidencial, ocupando todos os espaços possíveis ao seu alcance, exibindo a candidata oficial como uma personagem de intensa mobilização, ativa, presente em pontos diversos do país, governando, enfim.
À ausência de uma oposição que convença, se contrapõe um governo que, se não é bom, pelo menos tenta ser - um cenário escolhido pelo marketing governista e que tem sido eficiente, pelo menos a se acreditar nas pesquisas.