Originalmente, a expressão remonta à época do comércio marítimo de especiarias que integrou Ocidente e Oriente, quando os europeus obtinham lucros altíssimos com mercadorias chinesas.
O tema vem à tona a partir da notícia de que o Governo do Distrito Federal, indiferente à oposição de arquitetos e parlamentares, assinou um contrato milionário, sem licitação, com uma empresa de Cingapura, "para desenvolvimento de Brasília", pelos próximos 50 anos.
À falta de uma justificativa para a dispensa de licitação em um projeto de planejamento, sem qualquer caráter emergencial ou de notório saber, fica a suspeita de que o negócio da China do momento acontece em Cingapura. O valor do projeto - 4,25 milhões de dólares ou 9 milhões de reais -, também chama a atenção quando vinculado a um projeto para 50 anos. É a multiplicação dos peixes de natureza nada bíblica.
Para um governo sob cujo titular pesam denúncias de vínculos com a corrupção e que precisou de socorro federal para viabilizar sua gestão administrativa, soa a indiferença com o contribuinte.
Curiosa, para não dizer zombeteira, é a explicação do presidente da Terracap, (Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal) Antonio Carlos Rebouças Lins, que transfere aos críticos do projeto o ônus de sua transparência. Diz ele que as suspeitas levantadas são fruto do desconhecimento dos termos do contrato.
Mas não se dá ao trabalho de trazer esse conhecimento a público. A menos que se possa traduzir como tal sua "explicação" ao jornal Correio Braziliense: "É a conjunção de dois elementos. A excepcionalidade e a ausência de viabilidade do atendimento por um profissional padrão". Ah, bom, agora sim, todos podem ficar tranquilos quanto ao acordo com Cingapura.
Não deixa de ser estranho também o silêncio da junta imposta ao governo Agnelo Queiroz pelo Palácio do Planalto, com o objetivo de moralizar e capacitar a administração de Brasília, que detém poderes exclusivos sobre contratos em qualquer esfera do governo. Essa junta passou a funcionar como uma espécie de filtro que detectou casos de contratos renovados por décadas, sem licitação, entre outros descalabros com origem em governos anteriores e mantidos pelo atual.
O caso de Cingapura pode até ter uma explicação razoável. Mas será suspeito enquanto permanecer no plano da discutível sustentação jurídica sobre a dispensa de licitação. Afinal, o que o GDF foi buscar em Cingapura que não exista similar aqui? O governo do DF precisa explicar e convencer.