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CPI investiga dono de cheque de R$ 1,9 milhão de Cachoeira

Documentos recebidos pela CPI do Cachoeira, decorrentes da quebra de sigilos bancários, revelam um novo personagem ligado à organização criminosa do empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos. Trata-se do fiscal aposentado da Receita Federal Eurípedes Nunes da Costa, responsável pela movimentação de valores milionários da quadrilha.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

Ele seria o portador de um cheque de quase R$ 2 milhões, que num dos diálogos interceptados pela Polícia Federal, Cachoeira tenta reaver. Numa conversa flagrada em 24 de fevereiro de 2010, Cachoeira pede a Adriano Aprígio - seu ex-cunhado e um dos principais braços do esquema - que recupere o cheque que havia sido repassado a Eurípedes.

"O cara pediu um prazo no cheque. Recolhe lá com 'Seu' Eurípedes", ordena Cachoeira. "Vou falar com ele. Aí mudou o plano, né, Carlinho. Já pedi pra segurar, vou falar lá agora", responde Adriano.

 Foto: Estadão

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A suspeita da CPI é de que se trata de um cheque do Banco do Brasil, no valor de R$ 1,957 milhão, assinado por Cachoeira, e pré-datado para 16 de fevereiro. O documento foi apreendido na casa de Adriano Aprígio, durante busca e apreensão efetuada pela Polícia Federal no âmbito da Operação Monte Carlo.

A CPI retoma as atividades nesta semana. O relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), adiantou que vai requerer a convocação de Eurípedes e a quebra de seu sigilo bancário na próxima reunião deliberativa da comissão, agendada para o próximo dia 10.

Outras movimentações

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Eurípedes também aparece como responsável pela movimentação de mais de R$ 1 milhão das contas de duas empresas de fachada ligadas à Delta Construções: a Alberto e Pantoja Construções Ltda. e Brava Construções Ltda. Juntas elas receberam mais de R$ 40 milhões da Delta nos últimos dez anos.

O nome dele aparece pela primeira vez na resposta enviada à CPI pela Viação Anapolina, concessionária de transporte urbano sediada em Anápolis (GO) - berço do esquema montado por Cachoeira -, que recebeu R$ 515 mil da Brava Construções.

A empresa alega que pediu a quantia emprestada a Eurípedes para garantir o "fluxo de caixa" e pagar fornecedores. Ele teria transferido o numerário por uma conta da Brava.

A Anapolina também sustenta que a operação foi contabilizada e o empréstimo pago no dia seguinte. Não esclarece, contudo, porque uma empresa de seu porte - que controla 34 linhas intermunicipais junto ao governo de Goiás, e mais quatro interestaduais junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) - recorreu a um funcionário público aposentado para emprestar meio milhão de reais.

O nome de Eurípedes volta a aparecer em resposta enviada à CPI pela Emisa Engenharia e Comércio Ltda., empreiteira sediada em Anápolis. A empresa relata que vendeu um imóvel para Eurípedes.

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Em junho de 2010, ele manifestou o desejo de quitar o saldo devedor, no valor de R$ 58 mil. Mas transferiu à empresa o valor de R$ 340 mil - quase seis vezes mais - por meio de uma conta da Alberto e Pantoja.

A Emisa afirma que, verificado o equívoco, restituiu o valor excedente a Eurípedes em quatro parcelas.

Por fim, Eurípedes fez operação semelhante com a Elevis Comércio de Veículos Ltda., que vendeu uma Toyota Hilux SW4 2010 para a mulher dele, Dirce Silva Costa. Ele transferiu para a empresa R$ 200 mil de uma conta da Alberto e Pantoja, para quitar o negócio de R$ 157 mil. A Elevis afirmou à CPI que devolveu a ele o "troco" de R$ 36,4 mil.

 

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