Não se trata do que vem à frente, mas do que ficou para trás. Ou seja, não é relevante para a afirmação de idoneidade de Chioro a imposição legal do licenciamento para o futuro cargo no ministério, mas a falta deste no exercício do cargo atual, de secretário de Saúde municipal. O governo usa o futuro para desviar do presente.
É um velho truque para seguir adiante, atropelando uma liturgia necessária ao processo público, que mais tarde poderá trazer dor de cabeça maior. A empresa de Chioro é uma consultoria, que atua especificamente na área de saúde, onde o secretário de São Bernardo desempenha sua função pública, agora elevada ao ministério da Saúde.
O ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, deixou o cargo na esteira de uma denúncia que surgira insignificante, mas que ganhou corpo à medida em que não tinha respostas convincentes, e que também envolvia atividades de consultoria, desconhecidas à época de sua posse. Chioro corre risco semelhante, embora sua investigação seja conhecida desde já.
Mais prudente seria o governo levantar a consistência da investigação em curso no Ministério Público, certificar-se de sua inofensividade para que Chioro exerça o cargo de ministro da Saúde - ou não -, antes de minimizar a questão. Não faltarão interessados em mapear as ações da Consaude Consultoria, Auditoria e Planejamento Ltda, empresa de Chioro, iniciativa que poderá tirar-lhe o sono - e do governo - mais tarde.
Das últimas 48 horas para cá, o enredo começou a ganhar aquele desenho de uma emenda pior que a outra. Ontem Chioro anunciou sua saída da empresa, substituindo-se por sua mulher. Não podia ser menos convincente .
Não há crime em ter uma empresa, mas quando seu dono assume uma cargo público deve dela desligar-se com a máxima transparência possível.
Não parece caminhar nessa direção a condução dada por Chioro - com o silêncio autorizativo do governo -, para o seu caso.