A irritação do Planalto foi muito mais pela indiscrição de Mendes do que pelo conteúdo de sua declaração. Afinal, o que o ministro disse é o que já se intuía desde a edição da Medida Provisória com a qual o governo ganhou tempo para conter a pressão ambientalista às vésperas do evento mundial: é inevitável a volta à mesa de negociações com o governo mais flexível em algumas posições constantes da MP.
É, portanto, o que se pode chamar de radicalismo de ocasião, desta vez direcionado aos ruralistas. Antes, Dilma já o usara contra os ambientalistas, no dia 4 de abril, em discurso no Palácio do Planalto, durante o Fórum do Clima.
Ao se referir à participação do Brasil na Rio+20, ela disse aos presentes que o mundo real não trata de tema "absurdamente etéreo ou fantasioso". "Ninguém numa conferência dessas também aceita, me desculpem, discutir a fantasia. Ela não tem espaço para a fantasia. Não estou falando da utopia, essa pode ter, estou falando da fantasia", afirmou.
A declaração tinha endereço certo: os ativistas empenhados em impedir a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia. E o recado não podia ser mais claro: o governo não mudará seu projeto de aumento da oferta de energia e desenvolvimento da região.
Agora, os vetos ao Código aprovado pela Câmara, a MP que o modifica e o discurso contra a produção predatória blindam a presidente de manifestações mais hostis durante a Rio+20. Passado o evento, tudo volta a ser como antes no quartel de Abrantes.
O impasse continua a existir, a maioria que rejeita as posições ambientalistas é coesa e suprapartidária e o processo de negociação passa necessariamente por ela.
Se o governo quiser agradar a gregos e troianos vai correr todos os riscos de uma nova derrota, especialmente no momento em que há outras contrariedades na base aliada com potencial para ampliar o placar negativo em votações de interesse do Planalto.