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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Só Sorrisos

Por Eder Brito

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Por Redação
Atualização:

Fábio Dadalt Pedrotti acorda cedo. O estudante está devidamente matriculado no segundo ano do ensino médio e tem a rotina típica de um adolescente pré-vestibulando de 16 anos: vai à aula, estuda com afinco (já vislumbrando o temido ENEM), frequenta a academia de ginástica, assiste televisão e... preside sessões no plenário da Câmara Municipal, sede do poder legislativo de sua cidade.

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Fábio foi eleito presidente da Câmara Estudantil de Sorriso, município produtor de soja no oeste mato-grossense. A Câmara surgiu em maio de 2013, instituída pela Prefeitura para estimular a cidadania e a consciência política de jovens estudantes, aproximando o poder legislativo da garotada e apresentando respostas a uma questão que normalmente tira o sorriso do rosto e deixa muito marmanjo democrata perdido: o que faz um vereador afinal?

Do alto dos 16 anos de idade, Fábio e outros 10 alunos de escolas sorrisenses já aprenderam e já podem ajudar vários adultos a responderem a pergunta. Depois de empossados, os 11 vereadores titulares da Câmara Estudantil já realizaram três sessões ordinárias, em pouco menos de um mês. Na última sessão, em 16 de outubro, a produção legislativa foi melhor do que muita Câmara Municipal por aí: já aprovaram vagas de estacionamento para pessoas com deficiência e coleta de lixo eletrônico em escolas municipais. Todos os pedidos aprovados nas sessões da Câmara Estudantil são oficialmente encaminhados para as autoridades municipais competentes. Bom motivo para sorrir.

E as demandas por lá não são simples. Com mais de 80 mil habitantes, Sorriso é uma das maiores produtoras de soja do mundo. "Capital nacional do agronegócio" sedia empresas de vários segmentos e tem uma receita municipal muito boa se comparada à maioria dos municípios brasileiros. E problemas proporcionais de cidades com este porte, que de vez em quando eliminam os sorrisos estampados no rosto do munícipe. Quando acontece, chega a hora de recorrer aos vereadores-mirins. "O povo já me reconhece na rua, interage e me chama de vereador estudante! Procuro ouvir todo mundo, mesmo nas semanas em que não temos sessões ordinárias.", relata.

Já com o título de eleitor em mãos para as eleições de 2014, Fábio assume o discurso sério, polido e politizado, com um tom de autoridade municipal na hora de analisar o cenário local e as possibilidades e destaques da política nacional. Elogia o mandato do presidente Juscelino Kubitschek (!!!), diz que gosta muito do trabalho do Senador Pedro Taques e enaltece elegantemente o trabalho de Jane Delalibera, vereadora do município, "colega de casa".

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O garoto ainda confessa que já está sendo "procurado" por partidos políticos da cidade, legendas que já enxergaram o potencial do futuro líder juvenil. "Quero seguir na carreira política", afirma. Já foram dois convites oficiais e várias "conversas". Termina o papo invocando a Constituição Federal. "Todo poder emana do povo", lembra, no meio do discurso final. E certamente emana com mais força e de maneira muito mais interessante quando emana de um grupo de 11 adolescentes.

Por último e nenhum pouco menos importante: Fábio foi eleito representante municipal por 1500 alunos da Escola Estadual Mário Spinelli. Fábio Gavasso, do PPS, por sua vez, foi o vereador mais votado dentre os 11 "vereadores oficiais" da cidade. Recebeu 1398 votos.

E a democracia sorri.

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