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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

"Sem clima para a Copa"

Esse era o título do Jornal Leitura na quinta-feira dia 12 de junho de 2014. Como pode, em pleno Dia dos Namorados uma manchete tão amarga? Como ignorar a paixão do brasileiro pelo futebol? Abrir mão da partida contra os croatas? A despeito do que pensamos sobre o torneio, é fato que no dia da estreia o país se contagiou. Menos ruas pintadas, menos euforia que o normal, mas o hino cantado além dos padrões protocolares arrepiou. E quando Oscar fez o terceiro gol o delírio foi, efetivamente, no Padrão FIFA de contágio futebolístico.

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Por Redação
Atualização:

 

Assim, o que levaria um jornal a afirmar, antes de tudo isso, no clímax da ansiedade, que não temos "clima para a Copa"? Pessoas de vários lugares do Brasil, vestidas com suas camisas amarelas, logo pensariam se tratar de um periódico de oposição ao governo federal, ou mal-humorado com os investimentos feitos para o torneio. Mas devemos lembrar que estou falando de Santa Catarina. Isso mesmo: o Jornal Leitura é catarinense. E então está explicado. Não há jogo da Copa no estado, e olha que injustiça: Santa Catarina tem três times na Série A do Brasileirão - Figueirense, Criciúma e Chapecoense. Além disso, duas outras equipes dão trabalho na Série B - Avaí e Joinville. Não mereciam sediar? Se a resposta for sim, claro que o jornal está magoado. Assim como boa parte das pessoas. No aeroporto de Florianópolis, dia 13 de junho, pouco vi do verde amarelo. O estado estaria mesmo afastado de tudo isso?

 

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Esqueça. Não pense como se sua cabeça fosse uma Jabulani, ops, uma Brazuca. Não olhe para um país de milhões de quilômetros quadrados tentando encontrar o que aparece em sua janela. Interpretações antecipadas poderiam até achar que o estado estaria magoado, ávido por uma Copa que não lhe ofertou um estádio ou um novo aeroporto - algo que o governo precisa resolver urgentemente. Mas a tristeza é outra, e muito mais profunda. Realmente nossas leituras costumam ser impactadas por nossos mundos. Ou seja: muitos poderiam pensar que catarinenses se ressentem. Mas o motivo não é esse. Percebam! O Jornal Leitura fica em Riofarma e região - é isso o que diz o cabeçalho de suas páginas. Por lá, as cheias do Rio Negro atingiram cerca de 8 mil pessoas. O nível das águas estava 13,6 metros acima do normal. O que há para comemorar numa realidade como esta? Apenas o fato de naquele dia os afluentes estarem baixando, o que é algo muito mais importante que os gols de Neymar. Clima para a Copa, realmente, depende de aspectos expressivamente complexos. O mesmo poderia atingir São Paulo e sua seca, mas por aqui insistimos em fazer a festa, drenando o volume morto chamado de vivo e ressuscitando um espírito esportivo que não parece morrer nunca. Que os catarinenses voltem a sorrir logo. Não apenas com gols ou taças, mas principalmente com o restabelecimento do clima de suas dignidades.

 

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