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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Onde vale fazer propaganda?

A Constituição Federal afirma que a propaganda é essencial. Sem o uso de canais de comunicação os governos seriam menos capazes de apontar direitos, esclarecer ofertas, orientar cidadãos. A questão é que a propaganda oficial também deve zelar pela impessoalidade. Como garantir tal princípio se os governantes estabelecem estratégias associando propaganda oficial, campanha e feitos administrativos? Isso é claro em todos os níveis de governo, mas quando chegamos à ordem federal temos programas estrelados por presidentes na rádio, uma Voz do Brasil que personifica o Poder Executivo e pronunciamentos em rede nacional - utilizados com expressivo abuso para glorificar a figura maior. Isso é válido? A justiça não é capaz de enxergar?

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Por Redação
Atualização:

 

Depende. Nas prefeituras parece que o Judiciário tem mais coragem de coibir, restando saber se a punição é política ou técnica. Uma simples pesquisa no Google mostra quantos prefeitos são cassados por abuso de propaganda. Detalhe: sempre cabem recursos. Assim, hoje governa um, amanhã outro, o anterior volta e a justiça... Que justiça? Vamos entender alguns casos. Em Ibaté, interior de São Paulo, o ex-prefeito e sua chapa pura vencedora, todos tucanos, perderam direitos políticos por abuso do poder econômico e propaganda em período vedado. O site oficial do município em tom de louvor e a instalação de outdoors foram os problemas. Claro que o tal abuso pode ser visto com relatividade. Novas eleições foram realizadas, mas sem o término do julgamento. E se o prefeito eleito fosse considerado inocente? Sem problemas: a vencedora no pleito suplementar era suposta namorada do fiador - o ex-prefeito eleito em 2004 e reeleito em 2008. Tudo em casa, mas ela corria o risco de se tornar inelegível por isso. Novas eleições no horizonte?

 

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Pelos mesmos motivos, Gerson Neves (PMDB) foi cassado como reeleito em Nova Brasilândia do Oeste em 2012, no estado de Rondônia. A justiça determinava que o segundo colocado fosse empossado, uma vez que o vencedor não obteve mais de 50% dos votos válidos. Quando abrimos a página oficial da cidade, no entanto, é Gerson quem aparece como prefeito hoje. Recursos? Insegurança jurídica? Instabilidade? Liminar, conforme o jornal Tribuna do Povo dizia em dezembro de 2012. Revertido também foi o processo de Eloi Poltronieri (PT) em Vacaria, Rio Grande do Sul. A justiça entendeu que cabe multa em relação aos mais de 30 mil informativos louvando a prefeitura, mas tal questão ocorreu sem caráter eleitoral. Relativo? Subjetivo? O material foi oferecido após o início da campanha no interior da prefeitura. Mas nada de investir na tese do auto-louvor. Longe disso, era apenas uma forma de avisar que o prefeito havia feito muito pela cidade. Sua reeleição era um mero detalhe.

 

A mesma sorte não teve o prefeito eleito de Taipas, no Tocantins em 2012. Orlando Proência (PSDB) foi acusado de abuso do poder econômico e propaganda institucional irregular. Em maio de 2013 deixou o poder, e seu adversário de 2012 venceu por menos de 40 votos em setembro. Enquanto isso, o governo federal investe R$ 2 bilhões em propaganda, mistura as mensagens de empresas estatais com programas do governo, afirma em rádio baiana que é candidata à presidência, e não pré-candidata, e bate recordes de pronunciamentos em rede nacional. A dúvida é saber até quando. No Executivo local a justiça parece ter coragem de chegar, na estadual se arrisca de vez em quando, mas no plano federal a lógica absolutista ainda parece permitir de tudo. Até quando?

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