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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

O diabo na política

Esqueça se diante do título pensas que vai ler algo sobre o personagem vivido por Lima Duarte no clássico seriado de TV, O Bem Amado. Lá, Zeca Diabo era o temido cangaceiro, ou justiceiro, ou o que quer que seja associado à morte à margem da lei. Mas esqueça. Aqui vamos falar da política real, da vida como ela é: infelizmente. Isso porque algumas leituras de mundo dos políticos nos aproximam do infernal universo das crenças que nada têm a ver com a política e a gestão pública. Mas fazer o que?

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Por Redação
Atualização:

 

Nossa história começa em 2007. O mundo prestou pouca atenção, mas ainda assim o noticiário não deixou passar totalmente em branco a história de um prefeito de cidade no Arkansas, Estados Unidos, que renunciou ao mandato dizendo ter sido "abduzido pelo diabo" em meados dos anos 70 em Indiana. A partir de então esqueceu todo o seu passado e só o recobrou por meio de uma injeção. Vai saber o conteúdo da seringa. Seu nome? Depende. E isso não é uma charada ao estilo Gato do Face. O prefeito se chamava Ken Willians, o desaparecido se chamava Don LaRore. Eram, ou ainda são, a mesma pessoa...

 

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No Brasil, ao invés de provocar risos, atos como estes são levados a sério. Ou seja, parece que existem pessoas que acreditam nesse tipo de coisa. O deputado federal Missionário José Olímpio (PP-SP) apresentou projeto de lei na última semana com o objetivo de impedir uma "satânica Nova Ordem Mundial", de acordo com o site Congresso em Foco. Na justificativa da proposta deixou claros alguns trechos do Apocalipse, pouco importando o caráter laico de nosso estado. Seu maior objetivo é impedir a implantação obrigatória de chips em seres humanos no país - que chips são esses? Além de ferir aspectos do artigo 5º da Constituição, o que poderia até gerar um bom debate, este seria o "fim dos tempos", o símbolo da "marca da besta", segundo o projeto. Para se proteger, o deputado poderia desistir de sua carreira política, sobretudo se levar a sério algumas declarações da presidente Dilma Rousseff. Faz alguns meses nossa mandatária maior afirmou que em campanha vale tudo, até o diabo. Cuidado deputado! Fuja!

 

Mas se no plano federal o demônio só aparece na campanha, para os vereadores de Quixadá, no Ceará, a crise é mais profunda. Estaria o Missionário com a razão? De acordo com o informativo virtual Monólitos Post, o vereador Audênio Moraes (PPL) diagnosticou a presença maligna. Seu colega Ereni Tavares (PT), conhecido como Capitão, chamou o prefeito de abestado em discurso crítico à iluminação pública. Recebeu como troco do presidente Pedro Baquit (PSD) um pedido de respeito à figura do mandatário. A bronca foi completada pela afirmação de que Capitão tem "o peito cheio de corrupção". Diante da confusão, parece possível afirmar que Moraes é um visionário. O Monólitos mostra que horas antes do entrevero ele afirmou: "em toda sessão eu vejo a pomba gira aqui nessa casa. Se passar um redemoinho aqui, é perigoso até o capeta aparecer." Pronto! Teria o redemoinho passado? Teria ele deixado alguns chips implantados nos parlamentares? Ou quem sabe chegou a abduzir alguém? Respostas não parecem fáceis, mas é fato que o nível do debate em nossa política deve realmente ser obra do capeta. Tenebroso! Sinistro!

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