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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Microrrevoluções

Por Eder Brito

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Por Redação
Atualização:

Ouvir diariamente o discurso de dezenas de servidores públicos é uma tarefa meio esquizofrênica. Ao mesmo tempo que é um privilégio ter acesso a tanta informação boa e a tanta análise realista do serviço público municipal brasileiro, é também frustrante perceber que a qualidade das nossas Prefeituras ainda está longe do ideal. Parece que vai se instalando no olhar uma "lente bifocal dissimulada", que ajuda a enxergar fácil e rapidamente um lado muito ruim e faz passar despercebidas algumas coisas bonitas e inovadoras que as Prefeituras fazem. Cuidar para que isso não seja uma tendência é um exercício difícil, mas importante.

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Quando nosso olhar está defeituoso assim, ficamos sem saber, por exemplo, que uma escola municipal de Governador Valadares, em Minas Gerais, está promovendo desde a semana passada um projeto chamado Gentileza gera Gentileza, que incentiva alunos do ensino fundamental a distribuírem abraços grátis pela comunidade em que moram, tentando resgatar valores como o respeito pelo próximo e a amizade. E também não soubemos que no dia 1º de Maio, os mesmos alunos fizeram cartões de agradecimento aos trabalhadores de empresas da região em que moram e que até fizeram chorar de emoção alguns catadores de material reciclável de uma associação que fica ao lado da escola municipal Maria Elvira, no mesmo município.

Corremos o risco de ficar sem saber que a Prefeitura de Magé, no Rio de Janeiro já montou hortas em todas as suas escolas municipais e agora está disponibilizando técnicos especialistas em agricultura para montar hortas domiciliares em qualquer residência que solicite o serviço. Não soubemos que ontem pela manhã a Prefeitura de Sorocaba trouxe Dave Johnson, um dublê norte-americano especialista em defesa pessoal para treinar os guardas civis metropolitanos e tentar ensinar técnicas simples, que evitem o uso da força bruta e de armas para atender as demandas do dia-a-dia.

Ignoramos que a Prefeitura de São Luís, no Maranhão ainda que em meio à crise do transporte público, tem um time de agentes do serviço social que está combatendo o trabalho infantil em feiras livres da cidade. Não vemos que estes servidores saem em meio às barracas, procurando crianças e adolescentes cujas famílias consideram normal envolver em trabalho pesado "desde cedo". Nem percebemos que a pequena Piraju, no interior de São Paulo vai ter um pregão presencial na semana que vem, porque precisa comprar ração para os cães e gatos que vivem no Canil da Prefeitura, lotado porque a população abandona cada vez mais animais na rua da cidade.

Nossa mania de olhar para os defeitos da gestão pública, muitas vezes nos impede de enxergar este tipo de coisa acontecendo em nosso próprio município, em nosso próprio bairro e vai fomentando um jeito amargo de olhar para a política e para o poder público. Vamos para a rua incitar revoluções, meio sem direção, meio impulsionados por forças que nem conhecemos. E ignoramos diariamente as pequenas microrrevoluções que acontecem nas Prefeituras, graças à força de um batalhão de servidores desconhecidos. "Não fazem mais do que a obrigação", dirão os mal-humorados de plantão. Fazem bonito, direi em resposta.

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