Já em Minas Gerais existe a Tiradentes mais próxima do dentista Joaquim José da Silva Xavier, natural de Ritápolis, a 26 quilômetros da terra que o homenageia. Mas o respeito que se tem pelo herói hoje é bem mais recente que sua morte. O Império não gostou do movimento inconfidente e o dentista pagou com a vida. Seu corpo foi utilizado como símbolo da força oficial em 1792. Esquartejado, seus pedaços foram espalhados e sua cabeça exposta em praça pública na então capital da província, Ouro Preto. O espetáculo, entretanto, durou pouco. O cefálio foi logo guindado do pedestal. Pelos planos, devia ter ficado lá até apodrecer, mostrando a força do governo central. Mas transformou-se em mistério. O que foi feito da cabeça? Resposta precisa não há, mas uma representação dela voltou para a praça. Até que em 1992, dois artistas plásticos resolveram reeditar o roubo. Ambos entenderam que 200 anos depois a história precisava se repetir para a homenagem ser completa. Se em 1792 a cabeça sumiu, no bicentenário a cabeça falsa foi retirada. Sem o mistério de outrora, os dois foram facilmente descobertos e levados pra delegacia.
E cabeça parece mesmo ser algo destacável na história de Tiradentes, o dentista inconfidente. Na cidade que leva seu nome, distante cerca de 160 quilômetros de onde o cefálio foi roubado, as eleições de 2012 foram disputadas voto a voto. Melhor dizendo: cabeça a cabeça. Ralph do PV venceu, com 50,7% dos votos válidos, o tucano Zé Antônio do Pacu. Foram parcos 68 cidadãos de diferença. Menos que os 98 brancos, os 233 nulos e as 463 abstenções. Isso mesmo: cabeça a cabeça, num páreo em que as pesquisas apontavam empate até meados de setembro. Os dois empresários tinham pouco menos de 40% e índices semelhantes de rejeição de acordo com o Portal 007. Não era isso o que diria, no entanto, um blog tucano intitulado "PSDB-MG nas eleições 2012". Ali, em pleno dia 03 de outubro, um post dava a vitória de Pacu como certa. Isso porque as pesquisas lhe atribuíam mais de 50% dos votos contra 30% de Ralph. O que teria ocorrido na calada da noite? Em sentido figurado, roubaram a cabeça de Pacu? Parece que cantar a vitória não é atitude razoável na política. Se bem que em véspera de pleito, muitas cidades assistem "o que pode e o que não pode". Assistem "ao diabo", diria a presidente Dilma. Assim, se o Império desabaria 30 anos depois de se vangloriar da morte de Tiradentes, Ralph foi eleito, mesmo com o PSDB noticiando a vitória de Pacu.