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Máquinas e aparelhos

Velozes e tediosos

Por Camilo Rocha
Atualização:

A previsibilidade do novo iPhone comprova que o smartphone da Apple perdeu mesmo a liderança da inovação técnica na área. Ele ainda vai vender horrores, claro. São muitos os fãs da marca. Mas o novo aparelho não veio com gosto de especial e sim de "mais um".

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A concorrência roubou a exclusividade da Apple em relação a introduzir novidades tecnológicas. Mesmo a conexão 4G, conhecida como LTE, já existia há alguns meses em modelos da Samsung, da Motorola e da HTC.

O iPhone 5 não trouxe a tecnologia NFC, que vem se tornando um padrão para o uso do celular para pagamentos. Ela está disponível em modelos como Sony Xperia S. Outro item atraente inventado pelos rivais não encontrado no iPhone é o carregamento de bateria sem fio, disponível no Nokia Lumia 920.

Mas não é só isso. A Apple também fica para trás em uma série de especificações técnicas quando comparada a rivais.

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O Samsung Galaxy SIII e o Motorola Razr HD, por exemplo, têm telas maiores. O Galaxy SIII e o HTC One trazem processadores mais potentes. E o Nokia Lumia 920 tem uma câmera comprovadamente superior.

O fato de o sistema Android ter superado o iOS em popularidade também indica uma certa perda de prestígio do telefone da Apple. E antes que alguém fale em design, vale lembrar que a série Lumia, da Nokia, com Windows Phone, se configurou em uma alternativa de respeito.

A recepção ao novo iPhone foi bem morna entre os veículos especializados. Em todo lançamento da Apple há quem diga que não viu "nada de mais" no modelo apresentado. Mas nada se comparou ao que ocorreu desta vez. A Wired chamou o iPhone de "completamente incrível e totalmente tedioso". Zach Epstein, editor-executivo do site BGR, disse que o aparelho é "previsível". Já a CNet, que botou parte da culpa na ausência de Steve Jobs, sentenciou: "Faltou atração".

Era inevitável: a fase da revolução passou. Reproduzo aqui outra frase da Wired: "Revolução se torna evolução". E isso não vale só para o iPhone, mas para smartphones como um todo.

Já fomos todos dominados, conquistados pela sequência de inovações. Foram cinco anos de mágicas novas (tela de toque, vídeo em HD, reconhecimento de voz, aplicativos de mapas, etc.). Agora a cartola está vazia.

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Hoje, o smartphone toca música, tira foto, navega, grava, filma, conversa, escuta, escreve, guia o trajeto pelas ruas. Existe ainda algo grande e diferente a ser inventado para um smartphone? Talvez. Pode ser que um dia ele faça diagnósticos médicos ou dirija seu carro. Mas a aposta mais segura é que entramos numa fase de ajustes e melhorias discretas.

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Em 2012, está claro que o smartphone será cada vez mais percebido de uma outra maneira pelo usuário. De aparelho desejado e ícone da modernidade tecnológica a ferramenta corriqueira e totalmente integrada à banalidade do dia a dia.

Os números deixam claro esse destino: no primeiro semestre de 2012, foram vendidos 6,8 milhões de smartphones no Brasil, 77% a mais do que o mesmo período do ano passado.

Olhando para os números de celulares como um todo, os modelos "não smart" vão dando lugar aos aparelhos com sistema operacional. Se os celulares tradicionais devem vender 21% menos em 2012, os smartphones crescerão 82%. Os números são da IDC. A empresa prevê que em 2015 smartphones serão o tipo predominante de aparelho móvel. Nos EUA, isso vai acontecer já em 2013, quando os telefones "inteligentes" responderão por 70% do mercado.

Considerando tudo isso, será que está perto o dia em que veremos o fim das filas nas lojas às vésperas de um lançamento? Estará com dias contados a idolatria em torno de uma marca que fabrica telefones? Será o fim do smartphone como símbolo de status? O lançamento de um novo smartphone atrairá tanta atenção do público e da mídia quanto o anúncio de uma nova geladeira atrai hoje?

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Em nome do bom senso, torço para que sim.

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