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Número de planetas extrassolares ultrapassa marca de 1 mil

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Por Herton Escobar
Atualização:
Ilustração do sistema planetário Kepler 11, com seis planetas. Crédito: NASA/Tim Pyle  Foto: Estadão

Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

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A busca do homem por planetas extraterrestres e pela possibilidade de haver vida fora da Terra atingiu hoje um marco simbólico, porém histórico. O número de planetas descobertos fora do sistema solar ultrapassou a marca de 1 mil, chegando a 1.010 na Enciclopédia de Planetas Extrassolares, um dos principais catálogos de referência nessa área de pesquisa.

A lista é atualizada quase que diariamente pelo pesquisador Jean Schneider, do Observatório de Paris, à medida que novas descobertas são anunciadas - algo que já se tornou rotina nesses últimos 21 anos, desde a detecção dos primeiros exoplanetas (como também são chamados), em 1992.

A marca foi ultrapassada ontem com a inclusão da descoberta de 11 novos planetas pelo projeto WASP (Wise Angle Search for Planets), na Europa. Outros catálogos ainda não chegaram a 1 mil, mas estão todos próximos dessa marca (acima de 900). O Arquivo de Exoplanetas da Nasa, por exemplo, contabilizava até ontem 919 planetas, ao redor de 709 estrelas.

As variações devem-se a diferentes critérios para inclusão de novos planetas nas listas. O arquivo da Nasa, por exemplo, só inclui descobertas publicadas ou já aceitas para publicação em revistas científicas, enquanto que a enciclopédia de Schneider aceita anúncios pré-publicação, desde que feitos por grupos com respaldo científico reconhecido. "A Nasa é um pouco mais rígida nesse sentido. Mas todos os planetas acabam entrando nos dois catálogos; é só o tempo de inclusão que é diferente", avalia o professor Sylvio Ferraz Mello, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo. "O número, na verdade, já passou de 1 mil faz tempo, pois há muitos planetas já descobertos que ainda não foram anunciados", completa ele.

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Seja qual for o número exato, essa amostra de 1 mil e tantos planetas já permite aos pesquisadores fazer uma série de análises e extrapolações sobre a diversidade e abundância de planetas existentes fora do sistema solar, que não eram possíveis 10 ou 20 anos atrás. E, com base nessas estimativas, fazer inferências sobre a possibilidade de haver vida fora da Terra -- que estatisticamente falando é alta, segundo a maioria dos cientistas, apesar de não haver nenhuma prova direta disso.

"A possibilidade de haver vida em outros planetas é muito grande. Não temos nada de especial, então não faz sentido pensar que aconteceu só aqui", diz o professor Eduardo Janot Pacheco, também do IAG. A grande maioria dos exoplanetas descobertos e confirmados até agora é composta de gigantes gasosos, como Júpiter ou Netuno, incapazes de abrigar vida como a conhecemos. Quando se inclui os planetas "candidatos" descobertos mais recentemente pelo telescópio espacial Kepler, porém, as estatísticas indicam que os planetas mais comuns no espçao são justamente os pequenos e rochosos, parecidos com a Terra. O problema é que, por serem pequenos, eles são muitos mais difíceis de serem detectados; por isso as listas atuais têm ainda um "viés tecnológico" que favorece numericamente os planetas gigantes.

"Inicialmente, na década de 1990, só tínhamos os gigantes, tipo Júpiter. Depois começaram a aparecer os mais parecidos com Urano e Netuno, que também são gigantes gasosos, só que menores. Agora começam a aparecer os planetas com massa e raio semelhantes aos da Terra", diz o professor Jorge Melendez, também do IAG. "Os mais comuns, aparentemente, são esses menores; o que é muito promissor."

IMAGEM: 'Tabela periódica' de 990 exoplanetas, organizados de acordo com sua massa e temperatura (distância da estrela-mãe). Crédito: Laboratório de Habitabilidade Planetária, da Universidade de Porto Rico em Arecibo  Foto: Estadão

"O grande objetivo é encontrar um gêmeo da Terra", completa Melendez. Por isso, entenda-se um planeta pequeno, rochoso e com condições para abrigar vida como a conhecemos - ou seja, com órbita inserida na chamada "zona habitável" de sua estrela, onde a temperatura permite ter água líquida na superfície. Isso ainda não foi achado, mas parece ser uma questão de tempo e tecnologia para que eles comecem a aparecer , segundo os pesquisadores.

A estimativa baseada em dados do Kepler, segundo Janot, é que haja cerca de 1 bilhão de planetas rochosos nas zonas habitáveis de estrelas somente na Via Láctea (a galáxia na qual se encontra o Sistema Solar)-- sem contar todas os outros bilhões de galáxias do Universo.

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Segundo o astrofísico Gustavo Mello, do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estima-se que pelo menos 10% das estrelas (ou seja, 1 em cada 10) tenham planetas rochosos na sua zona habitável. "Esses números são muito incertos ainda, mas o que podemos dizer é que uma fração substancial das estrelas possuem planetas rochosos na zona habitável", afirma ele.

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Revés. Infelizmente para os pesquisadores, esse marco na descoberta de novos planetas ocorre justamente no momento em que os dois telescópios espaciais que revolucionaram a área nos últimos anos deixaram de funcionar: o Kepler, da Nasa, e o CoRoT, do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (em parceria com outros países, entre eles o Brasil). O primeiro teve de ser aposentado em agosto, de forma prematura, por causa de falhas em dois de seus quatro giroscópios (instrumentos que mantêm o telescópio apontado para o lugar certo). O segundo parou de funcionar em junho, depois de sete anos em operação.

Assim, nos próximos anos, caberá aos telescópios em terra tentar manter o ritmo das descobertas.

-- Post atualizado às 6h do dia 23/10/2013

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