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Lançamento falha e satélite sino-brasileiro cai na Terra

FOTO: Imagem de computador do CBERS-3. Crédito: AEB/Divulgação

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Por Herton Escobar
Atualização:

Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

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Atualizado às 9h do dia 11/12

O satélite sino-brasileiro CBERS-3 caiu na Terra depois de ter sido lançado do Centro de Lançamento de Satélites de Taiyuan, na China. Segundo informações repassadas à imprensa pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve uma falha na etapa final de colocação do satélite em órbita -- procedimento que é de responsabilidade da China. O motor do terceiro estágio do foguete lançador parou de funcionar 11 segundos antes do que deveria, de modo que o CBERS-3 foi liberado no espaço numa altitude abaixo do ideal (720 km, em vez de 778 km) e com uma velocidade horizontal abaixo do mínimo necessário para permanecer em órbita (8 km/s). Resultado: Assim que foi liberado no espaço, o satélite começou a perder altitude, até cair de volta na Terra, puxado pela atração gravitacional do planeta. "É o que tudo indica que tenha acontecido", resumiu o vice-diretor do Inpe, Oswaldo Miranda.

A queda não foi registrada visualmente, mas acredita-se que o satélite tenha caído na região da Antártida. Não há o que ser resgatado. "Provavelmente foi pulverizado na reentrada da atmosfera", disse Miranda. A baixa altitude, segundo ele, poderia ter sido corrigida com o uso de propulsores internos do satélite. Mas a falta de velocidade, não. "Aqueles 11 segundos (de impulso) que faltaram foram fatais. É como num estilingue: se você não puxa o elástico o suficiente, a pedra não voa e cai bem na sua frente."

Não foi possível determinar a velocidade exata do satélite, mas é certo que ela ficou abaixo de 8 km/s. Técnicos chineses vão analisar os dados de telemetria do foguete para tentar entender porque os propulsores do terceiro estágio foram cortados antes da hora. Esta foi a primeira falha registrada em 35 lançamentos chineses com esse modelo de foguete, chamado Longa Marcha 4B. "Demos o azar de ser justamente na vez do CBERS", disse o chefe de gabinete do Inpe, Carlos Alexandre de Souza.

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Miranda ressalta que, ao ser liberado do foguete, o CBERS-3 funcionou exatamente como deveria. O painel solar foi aberto, todos os sistemas foram ligados, as câmeras foram apontadas para baixo e o satélite enviou dados para a Terra durante 30 minutos. Depois, desapareceu. "O CBERS-3 funcionou perfeitamente. O problema foi no lançamento", disse Miranda.

O satélite era metade brasileiro, metade chinês (veja infográfico abaixo com mais detalhes); mas o lançamento era de responsabilidade total da China, que tem um dos programas espaciais mais avançados do mundo e comprovada eficiência no desenvolvimento e lançamento de satélites. O custo do lançamento, de US$ 30 milhões, foi dividido entre os dois países.

A meta do Brasil agora é acelerar o processo de montagem e preparo do CBERS-4 (um irmão gêmeo do CBERS-3), cujo lançamento estava previsto para o fim de 2015. "Vamos tentar reduzir esse prazo o máximo possível", disse Miranda. Segundo ele, é "factível" pensar em ter o satélite pronto para lançamento no prazo de 12 a 14 meses, mas isso dependerá de negociações com o lado chinês do projeto -- que teria de trabalhar dobrado, também, para cumprir esse prazo mais curto. Uma comitiva liderada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, que foi à China acompanhar o lançamento ao vivo, permanecerá no país por mais alguns dias para realizar essas negociações. Uma reunião extraordinária do comitê conjunto de coordenação do programa CBERS (JPC, em inglês) foi convocada para esta terça-feira, dia 10, segundo nota do MCTI divulgada pela Agência Espacial Brasileira (AEB).

Investimento. O Brasil investiu R$ 320 milhões* na construção dos satélites CBERS-3 e 4. O satélite perdido não tinha seguro, o que normalmente só é feito para projetos comerciais. "Para um satélite científico como o CBERS, o custo do seguro seria praticamente o mesmo do satélite", avalia Miranda. Ele e outros representantes do programa no Inpe ressaltaram que qualquer projeto na área espacial é um projeto de risco, e que todos os programas espaciais e todos os modelos de lançadores já vivenciaram eventos como esse. "É uma frustração, claro, mas estamos cientes de que isso é um risco natural", disse o coordenador geral de engenharia e tecnologia espacial do Inpe, Amauri Silva Montes.

(*Nota: Há uma certa confusão com relação a esses números. R$ 320 milhões é o valor que foi contratado a empresas brasileiras para construir as partes brasileiras dos dois satélites. O valor total investido pelo país na construção de cada satélite individual, porém, foi por volta de R$ 270 milhões, segunde me disse o diretor do Inpe, Leonel Perondi, em uma entrevista recentemente, antes de viajar para a China. Isso incluiria os gastos com logística, testes, montagem, etc. Estou aguardando mais informações do Inpe para saber o valor exato.)

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Miranda ressalta que o investimento não foi "jogado fora" com a perda do CBERS-3, já que o conhecimento tecnológico adquirido com o desenvolvimento do satélite continuará a render dividendos para o programa espacial brasileiro. "Hoje temos 90% do conhecimento necessário para fazer um satélite CBERS inteiro", destacou.

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Até que o CBERS-4 esteja funcionando no espaço, porém, o Brasil continuará como está há quase quatro anos, dependendo exclusivamente das imagens de satélites de outros países (como o Landsat-8, dos EUA, e o Resourcesat-2, da Índia) para observar seu próprio território. O CBERS-3 era um modelo muito mais avançado do que os seus antecessores (CBERS-1, 2 e 2B). Ele levava quatro câmeras de alta tecnologia -- duas desenvolvidas pelo Brasil e duas, pela China --, com diferentes resoluções espaciais e temporais, que poderiam ser empregadas numa série de aplicações, como o monitoramento de florestas e de atividades agrícolas.

Miranda garantiu que os serviços atuais de observação da Terra prestados pelo Inpe não deixarão de funcionar por causa da perda do CBERS-3, mas deixarão de contar com as imagens e dados adicionais que seriam fornecidos pelo satélite. No caso do programa de monitoramento do desmatamento da Amazônia em tempo real (Deter), por exemplo, a câmera WFI do CBERS-3 permitiria ao Inpe obter imagens de toda a floresta a cada cinco dias e detectar desmatamentos menores até do que 1 hectare, enquanto que as imagens usadas atualmente para isso (dos satélites Aqua e Terra, da Nasa) só permitem detectar clareiras maiores do que 6 hectares.

"Vai fazer falta? Vai. Mas o Inpe tem suas precauções. Não vamos deixar a sociedade brasileira desprovida de dados", disse o coordenador do segmento de aplicações do CBERS, José Carlos Epiphanio.

Para mais informações sobre o programa CBERS, veja a reportagem especial sobre o assunto publicada anteriormente neste blog: http://blogs.estadao.com.br/herton-escobar/cbers3-lancamento/

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Infográfico de Carlos Muller/Estadão  Foto: Estadão
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