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De Beirute a Nova York

Imaginem se o massacre de civis no Afeganistão fosse nos Estados Unidos

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Por gustavochacra
Atualização:

no twitter @gugachacra

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No Texas, quando um soldado americano de origem islâmica matou seus colegas, foi chamado corretamente de terrorista. Como classificar o sargento americano que massacrou 16 pessoas no Afeganistão, incluindo nove crianças? O massacre de ontem em Kandahar é o terceiro incidente neste ano de uma série que contribuiu para o agravamento da imagem dos Estados Unidos no Afeganistão depois de mais de dez anos de ocupação.

Em todos, a administração de Barack Obama pediu desculpas. O presidente lamentou quando soldados americanos urinaram em corpos de afegãos e após a queima acidental de exemplares do Alcorão. Agora, também deplorou o massacre de16 civis, incluindo nove crianças.

O problema é que Obama está em ano eleitoral. Seus adversários do Partido Republicano o descrevem como um "presidente que apenas sabe pedir desculpas pelo mundo". O incidente de ontem dará ainda mais subsídios para os opositores o atacarem como fraco em política externa apesar da ação que resultou na morte de Osama bin Laden.

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A população americana também cansou da guerra que está longe de ser a principal preocupação dos eleitores, mais interessados na economia. Para 60% deles, o conflito no Afeganistão não compensa os custos. O número sobe para sete em cada dez entre os democratas.

Ao mesmo tempo, Obama precisa garantir a segurança de suas forças no Afeganistão. Estes episódios agravam o risco para as dezenas de milhares de jovens americanos estacionados no país. Seis deles foram mortos por seus colegas afegãos depois da queima do Alcorão.

O presidente Hamid Karzai, por sua vez, enfrenta o Taleban que se fortalece quando estes episódios acontecem. Seu tom precisa ser duro o suficiente para tentar manter o apoio da população. Mas não pode chegar ao ponto de irritar os americanos, que bancam o seu regime.

Quando a poeira baixar, a tendência é de que os EUA e o Afeganistão voltem a trabalhar juntos. Na própria sexta, antes do massacre e com o episódio do Alcorão ficando para trás, os dois lados haviam acabados de assinar um acordo de transferência de prisioneiros. Além disso, os militares americanos são treinados para saber da importância do Alcorão para os muçulmanos, sendo um símbolo sagrado, e também para evitar baixas civis em operações contra o Taleban.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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