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De Beirute a Nova York

Hosni Mubarak, o faraó dos tempos modernos, vira múmia no poder do Egito

Hosni Mubarak, sempre ele, no poder desde 1981, sem nenhuma realização relevante, visitou ontem Barack Obama na Casa Branca. Deu conselhos a israelenses, árabes e americanos para conseguir a paz. O Egito, afinal, mantém o status de ser um dos únicos dois países árabes com acesso a todos os lados no conflito - o outro é a Jordânia.

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Por gustavochacra
Atualização:

Obama saudou o homem que não conseguiu colocar até hoje sinais de trânsito nos principais cruzamentos do Cairo, tornando impossível caminhar na beira do Nilo sem correr o risco de ser atropelado na tentativa de atravessar uma das marginais. Note que o Nilo não é como o Tietê e o Pinheiros. O Nilo é o coração da capital egípcia, onde, como já escrevi, as pessoas namoram, passeiam de barco, comem em restaurantes e fazem esportes. Este "presidente" do Egito, que aos 81 anos passa o tempo jogando squash em Sharm el Sheikh, consegue, mesmo com todo o Exército e o serviço de inteligência, ser criticado por qualquer egípcio disposto a conversar na rua. Todos sabem que ele manipula a política, prende opositores e permite que seus aliados façam "bons negócios na economia". Mesmo seus aliados já o consideram carta fora do baralho, esperando apenas ele morrer para saber se o chefe da inteligência, Omar Suleiman, ou o filhinho de Mubarak, Gamal, assumirá o poder.

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No mundo árabe, Mubarak conseguiu se tornar tão odiado quanto líderes israelenses. Israel é inimigo dos palestinos, na visão dos árabes. Logo, seria normal os israelenses fecharem a fronteira em Gaza e mesmo atacar os palestinos. O que ninguém consegue entender é o por que de o senhor Mubarak ter encarcerado os palestinos em Gaza durante a guerra de janeiro, certamente contribuindo para que eles morressem. Em parte, claro, ele teme a influência do Hamas no Sinai, onde o governo do Egito não consegue controlar pequenas organizações terroristas ligadas à Al Qaeda e também os beduínos. Mesmo assim, esta teoria não cola. O Hamas é inimigo assumido da Al Qaeda e de Bin Laden. Os palestinos consideram esta organização terrorista prejudicial aos seus interesses. O Hamas é um grupo nacionalista de cunho islâmico, não uma organização radical islâmica sem um ideal claro, como a Al Qaeda.

Óbvio, Mubarak não aceitou a entrada dos palestinos porque não os queria dentro de seu território. Não quer herdar Gaza de Israel. Os palestinos são bem recebidos na Jordânia, onde são cidadãos, e na Síria, onde possuem todos os direitos. No Kuwait, foram expulsos depois da imbecilidade de Yasser Arafat ao apoiar Saddam Hussein na Guerra do Golfo, em 1991. No Líbano, são cidadãos de segunda classe. Já o Egito, ou o regime de Mubarak, quer distância deles.

Os israelenses tampouco admiram Mubarak. Nasser pelo menos era corajoso, ainda que inimigo. Sadat nasceu como adversário, mas evoluiu para a paz. Mubarak não fez absolutamente nada para desenvolver esta relação. Sequer conseguiu utilizá-la para desenvolver a economia. A ajuda militar dos Estados Unidos, segunda maior do mundo depois de Israel, não serve para nada a não ser fortalecer o regime.

E o Obama o recebeu na Casa Branca, não disse nada dos direitos humanos, nem da democracia. Os Estados Unidos parecem ter medo do Egito. Os árabes e os israelenses assistem a tudo na TV, comentam nos blogs, no Facebook, no Twitter.

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Há, porém, uma nota importante no encontro de ontem na Casa Branca. Aparentemente, Avigdor Lieberman é ignorado como chanceler de Israel. Os israelenses o colocaram no ostracismo, tudo indica. Isso ficou claro em uma frase de Mubarak, ao dizer que mantém contato com o premiê de Israel (Benjamin Netanyahu), o chefe de Estado (Shimon Peres) e o ministro da Defesa (Ehud Barak). Liberman, que já o mandou ao inferno antes de ser ministro, ficou de fora.

Antes que me esqueça, o Egito tem importância para o diálogo entre o Hamas e o Fatah. Mas estas negociações, assim como a troca de prisioneiros dos palestinos com os israelenses, está nas mãos de Omar Suleiman, o chefe da inteligência. Ele esteve em Washington. Certamente, foi nele, e não no jogador de squash, que a Casa Branca, o Pentágono, o Departamento de Estado e CIA prestaram atenção. Afinal, Mubarak pode ter o poder de um faraó. Mas com seu cabelo tingido, parece uma múmia que insiste em atrasar o Egito

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