Os rebeldes, sem Qusayr, perdem uma importante rota de suprimento de armas a partir do Líbano. Mais grave, nos últimos meses, os opositores apenas perderam território. Controlam somente uma das 14 capitais de Província do país, além de áreas espalhadas pelas fronteiras com a Turquia e o Iraque. Sua única verdadeira "joia" é metade da cidade de Aleppo.
Agora, o regime sírio, mais uma vez com o apoio do Hezbollah, deve concentrar as suas forças para consolidar o domínio na estrada que liga Damasco a Aleppo para depois ir para a grande batalha e tentar retomar o controle desta cidade que é o centro econômico da Síria. Neste caso, porém, a tarefa será mais árdua pois os rebeldes ainda conseguem se reforçar para combater o regime nesta gigantesca metrópole que se transformou em uma Beirute dos anos 1980.
Falando em Líbano, cheguei ao país hoje. Está relativamente normal em relação a outras vezes que estive aqui. Os bares e cafés da região de Hamra, perto da Universidade Americana, estão lotados de jovens. E, além disso, há meio milhão de refugiados sírios espalhados pelo território. Alguns são ricos, outros pobres. Tem de tudo e a presença deles certamente afetará a balança sectária libanesa, da mesma forma que ocorreu com os palestinos.
O Hezbollah, por enquanto, é vitorioso na Síria. Mas sua imagem no Líbano se deteriorou devido ao seu envolvimento no conflito no país vizinho, especialmente entre os sunitas, que tendem a apoiar os rebeldes. Há o temor ainda de áreas xiitas de Beirute, como Dahieh, serem alvo de atentados terroristas cometidos por grupos opositores sírios - vale lembrar que alguns deles, como a Frente Nusrah, são assumidamente ligados à Al Qaeda.
Neste momento, o Líbano não ruma para uma guerra civil. Mas a instabilidade pode aumentar cada vez mais com o envolvimento direto do Hezbollah na Guerra Civil da Síria. Por outro lado, a consolidação da vitória de Assad deve reduzir a possibilidade de um conflito generalizado no território libanês.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires