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De Beirute a Nova York

De NY a Sanaa - Depois de Saleh, Yemen terá caos, não democraia

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Por gustavochacra
Atualização:

Depois da Tunísia e do Egito, agora foi a vez de o Iêmen ver o fim de um ditador, mas não necessariamente de uma ditadura. Abdullah Saleh se mandou para a Arábia Saudita. Na minha opinião, já começou uma guerra civil e este país árabe se transformará em uma espécie de Somália ou algo talvez ainda mais grave. De qualquer forma, este texto será para tratar de Saleh. Pelo menos, diferentemente de Hosni Mubarak e Ben Ali, ele até que teve alguns pontos positivos na sua história.

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Mas, antes de falar do Iêmen, quero deixar claro que o incidente envolvendo forças de Israel e refugiados palestinos nas colinas do Golã não foram esquecidos aqui no blog. Tocarei neste assunto. Assim como falarei da repressão do regime de Bashar al Assad. Porém acho que o Iêmen encerrou um capítulo importante e necessita de um post.

Até a chegada de Saleh ao poder, o Iêmen não existia como território unificado. O norte havia sido parte do Império Otomano e, posteriormente, passou a ser governado por uma monarquia de imãs ligados à corrente Zaidi do islamismo. Em 1962, um movimento arabista, inspirado no Egito, os derrubou do poder e instalou uma república nos moldes da de Gamal Abdel Nasser no Cairo.

O sul esteve sob controle do Reino Unido desde 1839. Em vez de ser um território voltado para o interior, como Sanaa, esta região tinha como centro a cidade portuária de Aden, entreposto fundamental na rota da Europa para Índia tanto antes quando depois da construção do canal de Suez. As idéias de fora  que chegavam com os navios acabaram alimentando ideais marxistas e, em 1967, o único regime socialista da história do Oriente Médio assumiu o poder, se aliando à União Soviética.

Saleh era do norte e sua carreira política começou nas academias militares. Era fã de Nasser e, aos 36 anos, em 1978, comandou um golpe para assumir o poder em Sanaa. Nas décadas seguintes, ainda jovem, desfrutava de popularidade entre os iemenitas do norte. Em 1990, depois da queda do muro de Berlim, liderou a unificação do Iêmen, transformando-se em um herói nacional.

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Sua tarefa não foi simples e, enquanto tentava conciliar a vida dos dois territórios, precisava administra uma economia cada vez mais em crise. Ao contrário de seus vizinhos em Omã e na Arábia Saudita, enfrentava dificuldades para conseguir administrar as finanças sem os recursos do petróleo, cada vez mais escasso.

A oposição a seu governo cresceu. Diferentemente de países como a Síria e o Egito, Saleh sempre abriu espaço para que opositores formassem partidos, ainda que fosse impossível assumir o poder. Mais importante do que a cena política em Sanaa, era a aliança com as diversas tribos ao redor do Iêmen. O líder iemenita também vitou bater de frente com elas. Nos últimos anos, começou a enfrentar o renascimento dos separatistas do sul e os rebeldes houthis no norte. A filial da Al Qaeda no país talvez seja a mais poderosa do mundo. Apesar disso, antes dos levantes árabes, poucos viam o seu regime ameaçado.

Na minha avaliação, a ruptura dele com algumas fortes tribos, e não os protestos, foram a causa do fim de Saleh.

Leiam os blogs da Adriana Carranca, no Afeganistão, do Ariel Palacios, em Buenos Aires, do historiador de política internacional Marcos Guterman, em São Paulo, daClaudia Trevisan, em Pequim, o Radar Global, o blog da editoria de Internacional do portal estadão.com.br, com o comando do Gabriel Toueg e do João Coscelli, o Nuestra America, do Luiz Raatz, sobre América Latina, " e as Cartas de Washington, da correspondente Denise Chrispim

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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