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De Beirute a Nova York

De NY a Damasco - Apesar da repressão, Síria entrará em órgão de Direitos Humanos da ONU

no twitter @gugachacra

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Por gustavochacra
Atualização:

Menos de dois meses depois de expulsar a Líbia e semanas após aprovar uma resolução contra o Irã, o Conselho de Direitos Humanos da ONU deve eleger a Síria para uma cadeira do órgão internacional. Damasco já foi escolhido pelos asiáticos para o posto e basta apenas a formalidade do voto. Grupos de direitos humanos sírios e de outros países árabes lamentaram a escolha e enviaram uma carta a diplomatas de todo o mundo.

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A candidatura ocorreu antes do início dos protestos de opositores contra o regime de Bashar al Assad. Porém, desde 1963, quando o atual líder sírio sequer era nascido, a Síria vive sob um estado de emergência. Esta lei concede poderes ao governo para reprimir a oposição e censurar a imprensa.

O argumento para a imposição desta lei é o conflito com Israel. Depois de sua aprovação, a Síria travou duas guerras contra os israelenses, sendo derrotadas em ambas. Uma em 1967, outra em 1973. Na primeira, conhecida como a Guerra dos Seis Dias, viu as colinas do Golã serem ocupadas por Israel. Nos anos 1980, os israelenses anexaram o território em ato não reconhecido pela ONU

O pai de Bashar, Hafez al Assad, permaneceu no poder por quase três décadas, até morrer no ano 2000. Nos anos 1980, o então líder sírio comandou um dos maiores massacres da história moderna do mundo árabe ao matar dezenas de milhares de civis na cidade de Hama. Seu objetivo era conter grupos radicais islâmicos.

Apesar de ser uma República, a Síria teve uma sucessão hereditária e Bashar, com 34 anos na época, foi escolhido como presidente em um Congresso do Partido Baath em 2000. Nestes 11 anos em que está no poder, o líder sírio prometeu uma série de reformas política e econômicas. Houve avanço na economia, com a abertura de bancos e incentivos à iniciativa privada.

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No campo político, a Síria não mudou praticamente nada nos anos de Bashar. Devido à repressão, protestos eram quase inexistentes até a eclosão dos levantes algumas semanas atrás. Agora, para conter as manifestações, o regime tem usado as suas forças de segurança. Pelo menos 200 pessoas foram mortas e centenas presas. Há relatos de torturas nas prisões.

A Síria também ocupou o Líbano por quase 30 anos, saindo apenas em 2005. Ao longo da maior parte deste período, oficialmente, o governo libanês aprovava a presença das tropas sírias. Nestas três décadas, centenas de libaneses foram mortos pelas forças de Damasco e seus aliados em Beirute. Depois de retirar forças militares, a Síria continuou se envolvendo em assuntos domésticos libaneses, se aliando a diferentes grupos de acordo com seus interesses.

O regime de Damasco também é acusado de armar os grupos Hamas e Hezbollah. Além disso, apesar de um recente esfriamento nas relações, Assad continua como o principal aliado do Irã no mundo árabe. Os sírios também são acusados de ligações com grupos armados no Iraque, ao mesmo tempo que concedem asilo a mais de um milhão de iraquianos.

Com este histórico, a Síria deve ser indicada para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Leiam os blogs do Ariel Palacios (Argentina), Adriana Carranca (Afeganistão), Claudia Trevisan (China), Denise Chrispim (Washington) e o Radar Global

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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