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De Beirute a Nova York

De Nova York ao Cairo - A teoria do Cisne Negro aplicada aos levantes no Egito

No twitter @gugachacra

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Por gustavochacra
Atualização:

Finalmente chegou o dia de falar da teoria do Cisne Negro aplicada aos levantes no mundo árabe. Para quem não costuma ler o blog, esta teoria nada tem a ver com o ballet. Na verdade, trata-se de um livro escrito pelo bilionário investidor e libanês Nicolas Nassim Taleb, que também é professor da NYU (Universidade de Nova York). Resumindo, a teoria diz que nenhum dos grandes eventos que interessam são previstos. Ninguém imaginou o 11 de Setembro, para ficar em um exemplo fácil.

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Desta vez, nenhum analista imaginou a onda de protestos no mundo árabe. E, na minha avaliação, a última edição do Middle East Journal, que é mais conceituada publicação acadêmica sobre o Oriente Médio nos EUA, indica o motivo. Não por dizer em algum artigo que estes levantes ocorreriam. Na verdade, justamente pelo oposto. Há textos sobre o Irã, Israel, Palestina e Iraque. Países que, junto com o Líbano, são os que atraem manchetes e teses de PhD ao redor do mundo. Mas nada sobre a Tunísia, como sempre.

Especialistas em Oriente Médio adoram estudar a política israelense, o regime de Teerã, o Hamas, o Hezbollah, a estratégia americana para o Iraque. Mas são raros os que se focam no Egito. Até existem, mas não são populares como aqueles que se repetem todos os dias falando do conflito entre Israel e os palestinos.

O mesmo vale para os correspondentes estrangeiros e eu me incluo nesta lista. Até estive no Cairo algumas vezes fazendo reportagens especiais. Mas sempre preferi Beirute ou Jerusalém. No meu caso, coloco também Damasco, o que de certa forma é uma raridade. Em geral, os jornalistas ficam no eixo Líbano-Israel-Iraque.  Mesmo o New York Times havia retirado seu correspondente, Michael Slackman, do Cairo no fim do ano passado. Mas os de Beirute, Jerusalém e Bagdá são intocáveis.

E, ainda que existam especialistas em Egito contemporâneo, o mesmo não se pode dizer da Tunísia. Ninguém observava este "Uruguai" do mundo árabe. Uma nação de classe média, mais moderada em questões sociais do que os vizinhos. Alguns turistas sequer sabiam que estavam visitando uma ditadura. Cenas do filme Guerra nas Estrelas, nas versões mais recentes, foram gravadas no deserto tunisiano.

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Poucos prestaram atenção ou cogitaram a possibilidade do levante neste país. Mas, quando ocorreu, serviu de incentivo para outros Estados na região. Além disso, não está claro se as manifestações teriam ganho a mesma dimensão se um jovem não houvesse imolado. A Tunísia foi um Cisne Negro que alterou para sempre a história dos regimes árabes. Agora, qualquer um consegue fazer previsões sobre o Egito.

Aliás, mantendo a tradição da semana passada, as consultorias de risco político dizem que o Egito caminhará para uma democracia frágil através de uma transição instável nas mãos do vice Omar Suleiman. Independentemente do resultado em eleições, o Exército continuará como a instituição mais poderosa.

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes

O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen e eleições em Tel Aviv, Beirute e Porto Príncipe. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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