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De Beirute a Nova York

De Havana a Teerã - A diplomacia de Lula

A política externa brasileira não pode ser considerada um fracasso nos anos Lula, como tampouco foi na administração de Fernando Henrique. Porém alguns eventos têm provocado fortes críticas ao atual presidente e ao seu chanceler, Celso Amorim. O mais recente envolveu a visita do presidente brasileiro a Cuba no dia da morte de um opositor cubano. Lula, apesar de suas credenciais democráticas, não expressou sua insatisfação  - ou pelo menos a dos brasileiros que prezam os direitos humanos - nos encontros com Fidel e Raul Castro. Às vezes, parece que criticar Cuba é um crime porque, nos anos 1960, 70 e 80, graças a enormes investimentos soviéticos, ocorreram avanços na área da saúde, educação e esporte em Havana. Mas, desde o período especial dos anos 1990, os cubanos ficaram para trás de grande parte dos países da América Latina, incluindo o Brasil. Hoje (e também no passado), Cuba é apenas uma ditadura opressiva, como foram a de outros países caribenhos como a República Dominicana de Trujillo ou o Haiti de Papa Doc.

Por gustavochacra
Atualização:

Verdade, o Brasil e quase todos os países do mundo mantêm relações com outros regimes autoritários e retrógrados, como a Arábia Saudita e a China. Faz parte do realismo na política internacional. Os Estados Unidos são um exemplo. Quer queira quer não, os sauditas possuem petróleo e os EUA necessitam de energia. A China também é fundamental para a economia americana, ao financiar a dívida dos EUA através da compra de títulos do tesouro. Mesmo assim, autoridades americanas manifestam insatisfação em relação aos direitos das mulheres na Arábia Saudita e também criticam a violação dos direitos humanos na China. Poderiam fazer mais, mas pelo menos fazem um pouco.

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Já o Brasil não critica Cuba. Não dá para entender. Claro que não precisa romper relações diplomáticas ou implementar um inócuo embargo, como os americanos. Mas Lula tem peso. Uma crítica sua à opressão do regime dos Castros poderia mostrar a verdadeira face do governo cubano para a esquerda da América Latina, ainda seduzida pelo romantismo ultrapassado dos anos 1960. Mais incompressível é que o Brasil não vê problemas em criticar outros países. Afinal, isso é normal nas relações internacionais. O governo Lula condenou a invasão americana ao Iraque, sem esfriar os bons contatos do presidente com George W. Bush - apesar da barreira da língua, os dois se davam muito bem. Tampouco Lula ou Amorim precisaram brigar com o Reino Unido para posicionar o Brasil ao lado da Argentina na questão das Malvinas/Falklands. Mas, quando o assunto é esquerda e direita na América Latina, o governo brasileiro sempre ficará a favor dos esquerdistas e contra os direitistas. Prova disso foi a desastrosa participação brasileira na crise em Honduras.

Agora, pulando para o Oriente Médio, vemos uma aproximação do Brasil com o Irã. Não há problema, desde que siga o caminho das relações dos EUA com os sauditas, para ficar em um exemplo, sem esquecer que somos bem menos dependentes de Teerã - se é que somos - do que Washington é de Riad. Honestamente, não digo que o problema seja a suposta ameaça de uma bomba iraniana - já tratei do tema em vários posts recentes. O que parece, porém, é que Lula recebe Ahmadinejad e viajará a Teerã apenas para chamar a atenção e provocar os EUA. Não acho também que os brasileiros possam ajudar nas negociações de paz entre israelenses e palestinos porque, visitando a região diversas vezes, é visível que os brasileiros são irrelevantes.

O Brasil tem importância no Oriente Médio acima de tudo no Líbano e na Síria devido à imensa comunidade sírio-libanesa. Em Beirute, diversas vezes, ouvi de libaneses reclamações de que o Brasil poderia cooperar mais na resolução dos conflitos internos libaneses. Mas o nosso governo parece preferir apenas temas que chamam a atenção. Além disso, milhares de brasileiros vivem no Vale do Beqa sem acesso aos serviços consulares porque estes estão restritos a Beirute.

Lembro ainda que o Brasil possui um histórico de envolvimento em economias do Oriente Médio. Principalmente no Iraque de Saddam Hussein, quando construtoras brasileiras ajudaram a erguer a infra-estrutura do regime iraquiano. Ironicamente, sem colocar o Brasil contra os iranianos, na época em guerra com Bagdá.

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Vamos ver como será a visita de Hillary Clinton amanhã. Obviamente, devem tratar do Chile, Haiti e Caças. Mas talvez sobre tempo para a questão iraniana.

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