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De Beirute a Nova York

De Brasília a Nova York - Brasil comete sucessão de erros em relações públicas na ONU

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Por gustavochacra
Atualização:

O Brasil e a Turquia convocaram para ontem uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O objetivo dos brasileiros e turcos era convencer os demais membros do órgão a organizar um debate público antes da votação de uma resolução contra o Irã, prevista para amanhã ou quinta, ser votada. Não conseguiram.

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Independentemente do mérito ou não da posição brasileira, chamou a atenção a falta de habilidade do Itamaraty em lidar com a imprensa e fazer relações públicas. Lembrou o Yasser Arafat pós-Camp David. Na época, o líder palestino foi embora e esqueceu de explicar a sua versão do fracasso das negociações. O então presidente dos EUA, Bill Clinton, e o na época premiê de Israel, Ehud Barak, tiveram todo o tempo do mundo para culpar os palestinos pela falta de um acordo.

Ontem foi uma sucessão de erros no CS. Primeiro, o Itamaraty não informou a imprensa brasileira da reunião. Eu soube pelos mexicanos e por uma ligação da redação em São Paulo, que viu nas agências de notícias. A Cris Fibe, minha concorrente da Folha, também soube por terceiros. Nenhum outro órgão de imprensa brasileiro foi avisado pelo Departamento de Imprensa da missão junto às Nações Unidas.

Quando se dirigiam para a reunião, porta-vozes de países como França, México, China e Áustria pararam para falar com os jornalistas internacionais. A delegação brasileira passou reto. Mal começou o debate, um diplomata americano saiu e deu a posição do seu país e dos seus aliados. Isto é, os primeiros textos das agências tinham as visões dos EUA e de alguns outros países, mas não do Brasil.

Encerrada a reunião, os porta-vozes do México e da França deram um show, falando por mais de meia-hora com os jornalistas e chegando a ironizar o Brasil. A Susan Rice, embaixadora dos EUA, saiu e deixou o recado - "vamos votar nesta semana". A manchete dos jornais estava pronta. E nada do Brasil. Um porta-voz brasileiro foi até os jornalistas, mas falou apenas com o Estado e a Folha. Quando a embaixadora Maria Luiza Viotti deixou a sala do Conselho de Segurança, cerca de 45 minutos mais tarde, a maior parte da imprensa havia ido embora. E a posição brasileira não aparecerá em muitos artigos dos jornais. A Turquia conseguiu ser ainda mais lenta.

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Como diriam no Oriente Médio, "o Brasil não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade". Usei outro dia esta frase para Israel. Mas acho que também se aplica ao Brasil.

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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