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De Beirute a Nova York

Damasco terá guerra civil como Bagdá e o Iraque se converterá em uma ditadura como a da Síria

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Por gustavochacra
Atualização:

no twitter @gugachacra

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O Iraque está virando a Síria e a Síria vai se transformar no Iraque. Com a diferença de que Bagdá tem petróleo de sobra e Exército treinado pelos EUA. Damasco, não. Mais importante, os xiitas iraquianos, que estão no poder, são majoritários. Os alauitas e os cristãos, que dominam o regime de Bashar al Assad, compõem uma minoria equivalente a um quinto da população.

O Iraque, que serviria para ser o símbolo da democracia árabe, aos poucos descamba para uma ditadura de Nouri al Maliki, onde a minoria sunita é perseguida e seus rivais eliminados. Apesar de laico, ele conta com o apoio dos radicais do Exército Mahdi, de Moqtada al Sadr, que será o Hezbollah de Bagdá. E, neste caso, os americanos não podem fazer nada. Acabaram de ser defenestrados - é, não foi Obama que quis tirar as tropas, mas os iraquianos que os expulsaram - e não serão bem vindos em décadas. Isso sem falar que 98% da população americana não quer mais ouvir falar neste país.

A Síria já tem focos de guerra civil em áreas como Homs. Damasco vivencia cenas de Iraquecom os atentados terroristas recentes, apesar de ainda estar relativamente calma. O medo dos sírios é de a capital ficar como Bagdá de anos atrás ou Beirute dos anos 1980. E este cenário tem tudo para se converter em realidade nos próximos meses.

O Irã pode perder um aliado fundamental se Assad cair ou ficar encalhado em uma guerra civil por meses ou talvez anos. Ao mesmo tempo, pode ganhar com o fortalecimento de um aliado xiita no Iraque. Verdade, há diferenças entre persas e árabes. Mas Maliki viveu em Teerã e os xiitas iraquianos possuem mais proximidade cultural com os iranianos do que os sauditas. São mais liberais nos seus costumes, longe do medievalismo de Riad. Mulheres iraquianas podem andar sozinhas, como no Irã, não sendo tratadas da mesma forma que animais, como ocorre na Arábia Saudita.

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A Síria não será de ninguém no curto prazo. Por culpa de Assad, da oposição, dos EUA, da Rússia, da França, da Arábia Saudita, da Turquia e do Líbano, a chance de uma solução pacífica acabou. Milhares de sírios ainda vão morrer nos próximos meses. Vai ser feio e sanguinário. Talvez, de uma violência não vista desde o Beirute em 1982.

 Acostumem - o Iraque será uma ditadura aliada não subalterna do Irã e a Síria terá uma guerra civil. Quem perde com isso? Israel e Líbano

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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