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De Beirute a Nova York

Copa do Mundo das ditaduras - Síria ataca e diz que "mulheres não podem ver futebol na Arábia Saudita"

no twitter @gugachacra

Por gustavochacra
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Uma frase do embaixador da Síria no Conselho de Segurança da ONU, logo depois de ser salvo pelo veto da Rússia e da China, entrará para a história. "É racional Estados apoiarem esta resolução (no Conselho de Segurança) ao mesmo tempo que proíbem as mulheres de irem a uma partida de futebol? São eles que estão pedindo para a Síria ser democrática?", afirmou Bashar Jaafari, se referindo a nações do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita.

Como escrevi ontem, a Síria é alvo do conselho por matar mais, não ser por uma ditadura. No mundo árabe, apenas o Líbano, o Iraque, a Tunísia e o Marrocos podem dizer que possuem alguma forma de democracia. Ainda assim, no primeiro e no segundo caso, sectária e, no terceiro e no quarto, ainda em transição. O Egito, a Líbia e o Iêmen podem não ter mais ditadores, mas tampouco são democráticos.

A Arábia Saudita e os outros países do Golfo são monarquias absolutistas. O Human Rigths Watch descreve uma série de casos de escravidão de estrangeiros nestes países. Realmente, na Arábia Saudita, mulheres não podem ir a jogos de futebol, andar sozinhas na rua e dirigir. Como afirmei outras vezes, vocês podem ir hoje ao cinema em São Paulo assistir ao filme Separation, do Irã. Mas ainda aguardamos o dia em serão exibidos filmes sauditas.

Além disso, realmente, na Síria, para padrões da região, as mulheres desfrutam de liberdade. Usam biquínis nas praias, podem namorar, beber álcool e usar cabelos soltos. Sexo antes do casamento é tabu, mas elas praticam normalmente sexo anal com seus parceiros, mantendo desta forma a virgindade.

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Enfim, seriam, depois das libanesas, as menos conservadoras do mundo árabe. Isso não significa dizer que sejam livres. Mesmo os homens na Síria não têm liberdade para expressar suas opiniões políticas. Criticar o regime abertamente em Damasco hoje pode significar tortura e até mesmo morte.

No caso, é deprimente que um regime secular como o do Assad mate milhares de pessoas, assim como é deprimente ditaduras que tratam as mulheres como na Arábia Saudita. O ideal é que todo o mundo árabe fosse democrático, como a Escandinávia. Mas não é e não será no longo prazo. Aliás, ninguém que ler este texto presenciará este momento em suas vidas. É para o século 22 e olhe lá.

E, apenas para ficar claro, a Arábia Saudita não pode ser alvo do Conselho de Segurança da ONU porque trata as mulheres como animais. Este é um tema do Conselho de Direitos Humanos em Genebra. O órgão de Nova York lida apenas com questões de segurança internacional, como a Síria, Palestina, Irã, Líbia, Chipre, Sudão.

Bahrain, por prender, torturar e matar opositores, incluindo crianças e mulheres, como na Síria, também deveria ser alvo do Conselho de Segurança. Mas os Estados Unidos impedem qualquer ação contra os seus aliados da monarquia Al Khalifa. Os americanos rejeitam até mesmo que o tema seja debatido no conselho. A embaixadora Susan Rice desconversa quando perguntada sobre o assunto. Nem mesmo Israel tem uma proteção destas dos americanos.

No caso israelense, os americanos vetam as resoluções da questão Palestina, mas não agem para impedir até mesmo debates sobre o assunto - inclusive, apesar dos vetos em resoluções, os EUA criticam os assentamentos nos debates. Mais importante, no caso das colinas do Golã, Washington adota a posição dos sírios, e não a dos israelenses, ao aprovar semestralmente resolução considerando a anexação do território como ilegal.

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Mas, voltando ao assunto anterior, esta posição americana em relação a Bahrain se deve a questões geopolíticas e econômicas. Para resumir a importância, a Quinta Frota da Marinha americana fica baseada neste país do Golfo Pérsico.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacio

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