Ao longo de todo este período, nunca vi Israel ser tão criticado. Thomas Friedman já alertou sobre esta questão em diversos textos no New York Times. Os israelenses perderam a guerra das relações públicas. Nos últimos anos, cada vez mais, nos EUA, na Europa e no resto do mundo, as políticas israelenses na Cisjordânia perdem apoio.
Nada no mundo fará alterar o cenário de que, se a ocupação persistir, Israel será cada vez mais isolado internacionalmente. Em termos de segurança, os israelenses não precisam chegar a um acordo com os palestinos. Os atentados terroristas vindos da Cisjordânia acabaram - há ainda os foguetes lançados de Gaza, que não mataram ninguém em 2013.
No campo moral, porém, Israel nunca esteve tão inseguro como hoje. Isso é um fato, não minha opinião. John Kerry, secretário de Estado dos EUA, deu literalmente este recado para o governo de Benjamin Netanyahu. Existe sim o risco de Israel, independentemente de se concordar ou não, passar a ser comparado à África do Sul não apenas em Damasco, Islamabad e Jakarta, mas em Estocolmo, Madrid, Berlim e, até mesmo, em Washington.
O futuro será definirdo se Benjamin Netanyahu pender mais para o lado do liberal Yair Lapid, ministro das Finanças e defensor de um acordo com os palestinos, ou para o lado de Naftali Bennett, o conservador ministro da Economia de Israel, que não aceita um Estado palestino.
Netanyahu é um dos últimos políticos inteligentes no mundo, goste-se dele ou não. Ele sabe bem como está este cenário. Conhece como poucos os EUA. Viu que a força da AIPAC diminuiu, com duas derrotas seguidas - não conseguiram convencer o governo Obama a bombardear a Síria e tampouco conseguiram levar adiante no Congresso novas sanções contra o Irã que colocariam em risco o acordo interno entre Washington, seus parceiros internacionais e Teerã.
De verdade, este talvez seja o momento mais importante da história de Israel. Espero que a ideologia do "kibutz", tão admirada no mundo todo, vença a dos assentamentos, tão criticada. Quanto mais Israel for Tel Aviv e menos for Ariel (o assentamento), mais respeitados serão os israelenses. O foco deve ser em Haifa, não em Hebron.
Note que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, já concordou com a permanência de tropas israelenses na Cisjordânia por cinco anos, sendo substituídas depois por forças da OTAN comandadas pelos EUA (não da ONU, como no sul do Líbano e no Golã), aceitando que a Palestina não tenha Exército. Não tem como ter uma proposta melhor do que esta.
Insisto, uma pessoa que for a Hebron, tende a ir embora com sentimento anti-Israel. Uma que for a Tel Aviv, tende a sair apaixonada pelos israelenses. O mundo precisa da tecnologia e da indústria farmacêutica de Israel. Mas não precisa dos assentamentos
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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