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O futuro do negócio de música, por Edmundo Leite

O Guilherme Werneck pediu para eu escrever um texto sobre o futuro da indústria da música. Como não tenho muito a dizer, a não ser que acho que o mercado sempre encontrará uma solução para levar (e faturar) a criação daqueles que sabem fazer música para aqueles que só podem ouvir,   me  resta o charlatanismo e a gaiatice em meio a exercícios de imaginação e alguma pitada de sonho.

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Por Redação
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2012 Google anuncia a compra de uma das antigas gravadoras majors e começa a investir na produção musical

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2013 Pelanza deixa o Restart e surpreende com um disco solo elogiado pela crítica e sucesso de público, dando inicio a uma trilogia de lançamentos bienais que vai até 2017. Antigos fãs pedem músicas da fase Restart, que aparecerão em novas versões em raríssimas apresentações.

Explodem as vendas de caixas temáticas - a preço acessíveis -  com fotos em papel especial, reprodução de ingressos de shows históricos, pôsters e memorabilia de artistas. A música dessas caixas especiais virá em pendrives e minicards multiplataformas compatíveis com tablets, aparelhos de som antigos e senhas de acesso para baixar a música.

 Foto: Estadão

2015 A ilusão de que o disco de vinil seria a salvação da indústria da música estará definitivamente perdida. Matérias nos sites e jornais anunciam mais uma vez, anos depois da primeira morte,  a última fábrica de vinil a fechar as portas. Um grupo de saudosistas unirá forças para manter a produção artesanal, que durará até 2017

2016Maria Rita vende 300 mil cópias, ainda no antigo formato CD,  de  "Maria Rita canta Raul", com reinterpretações de lados B do roqueiro baiano.  Executivos dizem que o CD é o futuro da indústria da música no Brasil.

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2018 Google já controla mais duas antigas majors, uma delas adquirindo o espólio da falência e outra numa oferta hostil anunciada ao mercado. Empresa começa a ação de aquisição de editoras musicais pelo mundo.

2019 O artista brasileiro descoberto na Copa de 2014 anuncia o rompimento com parceiros de composição e decreta o fim do tecnotropicalismo.

A tecnologia de projeção holográficas de shows lançada pela Apple estará popularizada, com todos podendo assistir a um  show do ídolo na sala de casa ou num salão de bar. O projetor calcula as dimensões do ambiente para o artista se movimentar pelo espaço e interagir com o local. Microsoft lança a sua versão com o karaokê-mode, com a qual o usuário pode fazer duetos, participar do coro e tocar instrumentos, como no atual guitar-hero.

As duas empresas partem para cima de hackers que projetam as apresentações sem autorização e pagamento no código aberto do Google Street View.  Para achar as apresentações, basta cruzar o endereço certo com o nome do artista, tornando quase impossível o rastreamento prévio dos shows, que mesmo sem a qualidade do projetor doméstico fazem sucesso no site de mapas.

2020 O ano em que faremos contato. A nave do consórcio russo-americano que partiu um ano antes da Terra chega a Marte com cinco meses de atraso. Cientistas da Nasa mostram um vídeo do momento em que o jipe-robô  teleguiado com o logo do Google Music na carcaça  encontra um pequeno monolito, do tamanho de um iPad, que emite sons numa freqüência inaudível  aos ouvidos humanos.

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2022 OMC subscreve, após anos de negociação com Google, Microsoft, Apple e uma nova empresa surgida na web em 2017, um novo marco do direito autoral.

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2023 Nascido em 2000, o artista X lança seu primeiro single e domina as paradas mundiais, aferidas e debitadas por controle remoto a partir dos tocadores múltiplos.

Usando a nova freqüência descoberta em Marte, X revoluciona o modo de produzir e ouvir música, com pequenos sensores que convertem o sinal emitido em som como conhecemos hoje, mesclado com a projeção de imagens. As primeiras imagens lembram o visual lisérgico dos anos 60, mas em meses a tecnologia terá evoluído para projeções realísticas de imagens de sons.

2025 Com a música da nova freqüência descoberta em Marte, uma nova escala de notas musicais é decifrada. A descoberta permite  tirar novos sons de antigos instrumentos. O resultado provoca o surgimento de novas escalas melódicas de antigas músicas e torna impossível aferir a autenticidade de uma criação musical feita a partir de uma antiga canção.

Simultaneamente, é criado o novo sistema de cobrança automática, pois só é possível escutar a música, pagando, nos novos aparelhos que entendem a freqüência extraterrestre. Piratas trabalham uma maneira de tentar burlar a restrição freqüencial e converter a música ao som normal.

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X lança aquele que será  considerado o seu mais emblemático trabalho e influenciará uma geração de novos músicos. Sites tentam fabricar clones biológicos de X e de suas músicas usando freqüências distorcidas do som criado por ele. A nova tecnologia permite que surdos escutem músicas através de pequenos implantes que estimulam neurônios no cérebro.

2030 Surge o zajjfusion.

2042 Aos 100 anos, morre no Brasil o último tropicalista.

2055 Numa cidade do interior em algum lugar do mundo, um moleque de 14 anos descobre os primeiros acordes num violão e dá os primeiros passos na música. Com um amigo de 15 que toca um moderno instrumento eletrônico de sopro cria uma nova batida que em alguns anos explodirá nos ouvidos de uma nova geração através dos sinais que ele emitira de seu transmissor portátil de música.  Seus seguidores num serviço de tiks espalham cada lançamento, remunerando o próprio autor em sua conta corrente individual a cada reprodução. Faixas "ao vivo real", capatadas no momento em que o artista se apresenta, serão mais caras.  Faixas já escutadas, gravadas antes ou compartilhadas serão gratuitas ou vendidas em baciões virtuais a US$ 0.0001.

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Edmundo Leite é o coordenador do Arquivo do Estadão, faz o blog Memória, gente, lugares, aqui no Estadão. Dono de um arquivo dos sonhos de publicações musicais brasileiras, ele está nos finalmentes da primeira biografia pra valer de Raul Seixas - que torço para sair a despeito do embaço da ex do maluco beleza

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