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Economia e políticas públicas

Opinião|"Programa de swap é como cortisona"

Luiz Fernando Figueiredo, sócio fundador da gestora Mauá Sekular, e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), acha que a decisão do BC de estender o programa de swap cambial até o fim do ano, nos volumes anunciados, é um grau de intervenção excessivo (esta coluna foi publicada em 25/6/14).

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Atualização:

"Dá um cheiro de artificial, como se o paciente estivesse tomando cortisona, e parece que nós ficamos um pouco viciados - acho que já estaria na hora de o BC começar a desmamar o mercado", diz o executivo.

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Segundo as contas de Figueiredo, o novo programa pode atingir até aproximadamente US$ 26 bilhões até o final do ano, o que somado ao que já foi feito, criaria uma exposição ao dólar no programa de swaps de cerca de US$ 120 bilhões. "Em relação ao tamanho das reservas (US$ 380 bilhões), não é uma dimensão alarmante, que traga um risco muito grande, mas o programa já vai fazer um ano e tinha mais sentido no ano passado, quando havia um ambiente externo e local ruim", analisa.

Voltando à metáfora da cortisona, Figueiredo diz que há sentido em usar uma medicação deste tipo em uma situação aguda e temporária, como o estresse nos mercados em 2013. Agora, porém, na sua avaliação, "o ambiente externo está muito bom, o Fed (BC americano) não podia estar mais 'dovish' (mais preocupado com a atividade do que com a inflação) e a liquidez está fluindo para os emergentes".

Ele nota que os fluxos e a bolsa no Brasil estão em terreno positivo no ano, e que a apreciação cambial no Brasil está mais intensa do que em outros emergentes.

O grande problema da atual estratégia cambial do BC e do governo, para Figueiredo, é a de criar artificialismo no mercado de câmbio, mascarando o que seria a taxa de câmbio determinada por fatores fundamentais e pelo mercado livre. "Não acho que seja uma boa prática ter esse grau de intervenção no mercado, principalmente num mercado que está funcionando direito", ele diz.

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Para o fundador da Mauá Sekular, o BC não abandonou o câmbio flutuante, e provavelmente "não combateria a ferro e fogo" um movimento mais forte de depreciação. Ainda assim, ele acha que a autoridade monetária está se deixando levar por "um grau de intervenção muito além do normal". Ele prefere a postura anterior neste primeiro semestre, quando o BC chegou a diminuir as rolagens de swaps cambiais, iniciando um movimento de "desmamar" o mercado.

"Este programa foi iniciado principalmente como resposta a uma piora muito mais forte que poderia vir do exterior, mas que não aconteceu - nos preparamos para a guerra, mas o inimigo não compareceu, e agora ficamos viciados", acrescenta Figueiredo.

Os motivos para o prolongamento do programa, para ele, devem ser o desejo do BC de deter ao máximo a volatilidade no período eleitoral e evitar que alguma surpresa no câmbio (uma desvalorização muito forte) dê mais um impulso na inflação e a faça romper o teto do intervalo de tolerância do sistema de metas (6,5%) este ano. Figueiredo, porém, não considera que essas razões justifiquem os riscos de criar tanto artificialismo na taxa de câmbio.

Ele lembra que a situação da economia está frágil. "A atividade está muito fraca, a confiança muito ruim, e não estamos muito longe do pior momento de 2008, que gerou pânico", rememora. O economista acha que é uma situação que poderia até "levar a uma redução da taxa de juros lá na frente". O problema, continua, "é que está claro no livro-texto que, com esse nível de intervenção, você reduz os graus de liberdade da política econômica, e um deles é o de reduzir a taxa de juros". A razão, explica Figueiredo, é que baixar os juros é mais arriscado "quando perdemos a visibilidade de um preço superimportante com a taxa de câmbio no Brasil".

(Fernando Dantas - fernando.dantas@estadao.com)

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Opinião por Fernando Dantas
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