Música não tem sexo

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Por Estadão
Atualização:

Como sou fã de rock pesado, meus amigos sempre acham estranho eu gostar de um cantor como Morrissey. "Nossa, ele é muito gay", costumam atacar. Não ligo: nunca imaginei que música tivesse sexo. E não estou nem aí com a vida pessoal de alguém que conheço apenas por revistas ou capas de CD.

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Preconceito sexual é uma burrice em qualquer área, mas fica pior ainda quando aplicado a artistas, seres humanos cujo trabalho é tornar a vida dos outros mais agradável. Não estou fazendo tipo de moderninho, não: eu realmente não estou nem aí para quem é ou não é gay.

Até porque não conheço ninguém que coloque a mão no fogo em relação à sexualidade de quem quer que seja. Olha a ingenuidade: quando eu era adolescente, pensava que Rob Halford, vocalista do pesadíssimo Judas Priest, usava roupas de couro e visual de motoqueiro porque era o cara mais machão do mundo. Mal sabia eu que ele sairia do armário na primeira oportunidade e viraria militante da causa gay.

O rock sempre foi andrógino e ninguém nunca ligou para isso. A mulher de David Bowie pegou o marido na cama com Mick Jagger; as festas de Freddie Mercury, do Queen, deixavam as orgias romanas no chinelo; até punks barulhentos como Jello Biafra e Henry Rollins não saem das listas dos 'será que eles são...?'. Também não sei se eles são e não tenho a menor vontade de saber. Para quê?

É engraçado como música é um tema que suscita paixões: ninguém deixa de gostar de um quadro do Andy Warhol ou do David Hockney porque descobre que eles eram gays, nem acha um livro de Marcel Proust ou Oscar Wilde menos genial porque a biografia deles inclui namorados do mesmo sexo.

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O perigo é que homofobia mata, como dizia o slogan da Parada Gay. Os mais desesperados costumam dizer que os gays estão dominando o mundo. Acho meio exagero, afinal gays não se reproduzem, pelo menos até onde eu sei. Mas, por via das dúvidas, no ano que vem prometo voltar àquela idéia de organizar uma Parada Hetero, cheia de barrigudos com pochetes e mulheres com bobs no cabelo. A trilha sonora? Morrissey, claro.

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