Mad Men: Uma máquina do tempo

Don Draper, o Tony Soprano da publicidade: Eu queria ser esse cara

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Por Felipe Machado
Atualização:

No episódio 'Inventando a Roda', no final da primeira temporada, há um trecho que define e, de certa forma, explica o sucesso da série americana 'Mad Men'. Para quem não conhece, o seriado mais premiado dos últimos anos retrata o dia a dia de uma agência de publicidade de Nova York. Detalhe: se passa nos anos 60.

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Na tal cena, o Diretor de Criação da agência e protagonista da série, Don Draper, prepara uma apresentação para os executivos da Kodak.

O produto abordado pela campanha é um projetor de slides. Lembra o que é isso? Sim, aquela velha geringonça que projetava fotos na parede da sala de jantar.

O carismático publicitário usa slides pessoais na apresentação: fotos de seu casamento, imagens de seus filhos na praia. E seduz os executivos da Kodak, que pretendiam vender o aspecto 'tecnológico' do produto.

"Criar uma conexão profunda com o produto é mais importante que falar sobre a tecnologia. Sua máquina de slides não é um foguete, é uma máquina do tempo. Vai para frente, vai para trás, nos leva a lugares onde desejamos voltar. Nos faz viajar como crianças, não como adultos. Saímos por aí, mas acabamos voltando para casa. Voltamos para um lugar onde sabemos que somos amados."

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Silêncio. Um executivo da Kodak esconde as lágrimas.

O discurso, pontuado por belas fotos da família do personagem, é feito para emocionar. Ao final, claro, Don Draper aprova a campanha. Mas por que o trecho simboliza o sucesso de 'Mad Men'?

Porque 'Mad Men' é exatamente como o projetor de slides. Não é um foguete, é uma máquina do tempo. E nos leva direto para os anos 60, quando o mundo começava lentamente a se transformar no lugar onde vivemos hoje.

Ninguém ali estava preocupado com o último lançamento do Steve Jobs; o chefão da Apple ainda era uma criança. Kennedy não apenas era vivo, como ainda disputava a eleição presidencial com Nixon. E as pessoas fumavam e bebiam sem culpa, ingenuamente até, sem saber que fazia mal ou que era politicamente incorreto.

A vida era perfeita? Claro que não. O machismo era gritante, a hipocrisia reinava. Mas não havia terrorismo, não havia essa ansiedade social que abala o planeta.

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O mundo era feliz e não sabia? Talvez. Quem lembra do passado sempre tende a achar que tudo era melhor. Esse mundo não existe mais, e é justamente isso que seduz o público. Queremos acreditar que aquele mundo ainda é possível, o que é totalmente impossível. O mundo só existe durante os 47 minutos de cada episódio.

A verdade é que entre o projetor de slides e o iPhone há uma distância tão grande que nem Don Draper conseguiria nos convencer do contrário.

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