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Robson Marinho dá graças a Jeca Tatu, sem o qual não teria sido político

por Fernando Gallo

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Por Redação
Atualização:

Não fosse Jeca Tatu e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Robson Marinho não teria sido eleito vereador em sua primeira tentativa, nem talvez jamais tivesse seguido carreira na política.

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O Jeca Tatu em questão não era o personagem, e sim um carroceiro de carne e osso, de apelido, aí sim, inspirado na figura criada no livro Urupês por Monteiro Lobato, taubateano do mesmo Vale do Paraíba onde Marinho se criou e fez sua vida pública.

Trata-se de Berfares Souza Oliveira, figura farroupilha dos arredores de São José dos Campos (SP), catador de coisas que ninguém queria, homem nascido e morrido pobre mesmo depois de cumprir dois mandatos de vereador.

Por dessas coisas do destino, seria o miserável homem o responsável por ajudar o milionário Robson Marinho a tecer uma carreira na qual viria a amealhar, entre outros, os US$ 2,7 milhões que circularam pela conta do conselheiro na Suíça.

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Da esquerda para a direita: Amélia Naomi, Robson Marinho, Shakespeare Carvalho e Tonhão Dutra  Foto: Estadão

 

Explica-se: Jeca Tatu foi uma espécie de predecessor de Tiririca (PR-SP), um voto de protesto dos estudantes joseenses que o elegeram, em 1968, com 1.242 votos, o vereador mais bem votado do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em São José dos Campos.

Com a ajuda dos votos sobressalentes de Jeca Tatu, Marinho foi o 15º vereador a conseguir um mandato. Eram 15 cadeiras em disputa.

A história foi contada pelo próprio Marinho em depoimento dado na segunda-feira à noite na Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São José, cidade onde fez carreira política, e na qual exerceu os mandatos de vereador e prefeito. Ele também seria deputado federal e chefe da Casa Civil do governo Mario Covas (PSDB) entre 1995 e 1997. Depois, pelas mãos de seu padrinho político, Covas, ele chegou à Corte de contas.

Marinho detalhava como ele e Jeca Tatu eram os únicos dois vereadores a fazer oposição ao prefeito biônico da ocasião (a partir do minuto 23'30'' do vídeo abaixo).

"Éramos 9 vereadores da Arena e 8 do MDB. Dois vereadores da Arena foram cassados. O MDB, em tese, teria maioria. Seriam 8 do MDB contra 7 da arena, só que, dos 8, 6 aderiram imediatamente ao prefeito militar. Aí ficamos na oposição eu e o vereador Berfares de Oliveira, o Jeca Tatu, que a estudantada espetacularmente elegeu. E quero dizer mais, se hoje sou político - ou fui político, que hoje não sou mais -, foi graças ao Berfares, porque foi com a sobra de votos dele que eu consegui ser eleito a primeira vez. Fui o ultimo dos 15 vereadores elitos em SJC, tive 840 votos na primeira eleição. O primeiro suplente teve 821 votos. Passaram-se 4 anos e ele não assumiu uma única vez. (Não fossem os votos sobrantes de Jeca Tatu) provavelmente não teria assumido o mandato e poderia não ter seguido essa carreira".

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Marinho foi convidado a explicar como atuou como deputado estadual para que a autonomia política da cidade de São José dos Campos fosse recuperada. É que São José dos Campos era considerada estância hidromineral, e por serem as estâncias consideradas tema de segurança nacional, os prefeitos eram biônicos, e não eleitos pelo povo.

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O então deputado conseguiu aprovar na Assembleia Legislativa um projeto de lei modificando essa situação. Com modéstia, disse que se tratava de um desejo dos setores organizados de São José dos Campos. "Eu nada mais fui do que um instrumento dessa vontade popular. Fui o autor da lei que devolveu autonomia popular a São José dos Campos".

Após o depoimento, Marinho congratulou-se com o prefeito Carlinhos Almeida, do mesmo PT que o fustiga na Assembleia Legislativa - e que fez questão de acompanhar o depoimento do conselheiro na Câmara, sentado ao seu lado. Marinho também confraternizou com os vereadores, e parou para tirar fotos com Amelia Naomi (PT), Shakespeare Carvalho (PRB) e Tonhão Dutra (PT). Todos se abraçaram e sorriram efusivamente.

Não fosse Jeca Tatu, Robson Marinho talvez não tivesse sido político. Talvez também não estivesse implicado nas investigações do Ministério Público de São Paulo e do Superior Tribunal de Justiça, sob suspeita de ter favorecido a multinacional francesa Alstom em contrato na área de energia do governo paulista em 1998.

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