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Impressões sobre a vida e seus arredores

Talvez você me perdoe

(Mensagem em defesa dos colibris e das rosas)

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Por Raul Drewnick
Atualização:

Minha querida, seria tão bom se você pudesse aceitar o meu romantismo. Sei que prometi uma porção de vezes me regenerar. Você deve ter aí a conta exata. Oitocentas, oitocentas e trinta e uma. Talvez até mais. Você é tão rigorosa comigo. Lembra quando você se zangou feio porque eu disse que morava na Rua dos Colibris? Claro que você lembra. Foi logo na nossa primeira conversa. Você precisava ter feito aquela cara? Que culpa eu tenho de morar na Rua dos Colibris? Você precisava perguntar, com aquela ironia, se era perto da Avenida Rouxinol e da Alameda das Cotovias? Bom, eu não pretendo te irritar. O que eu queria dizer, mesmo, é que eu venho tentando mudar, te juro que sim. Como eu podia adivinhar, quando lia a Clarice, quando ouvia o Chico, quando ia ver a Julia Roberts, que estava cursando o pior curso possível de educação sentimental? Naquela época eu fazia sucesso com as garotas, e continuei fazendo até que me apareceu quem? Talvez a única mulher no mundo que odeia o romantismo, capaz de jogar de volta flores na cara de alguém, como jogou na minha, de rasgar um poema sem ler. (E era o melhor que eu fiz até hoje. Tinha até uns lances assim do Mario Quintana...) Depois que você me pôs no gelo, Tiquinha, o que eu mais quero é sair dele. Mas de vez em quando me dá uma recaída, e eu penso umas coisas bonitas que tenho vontade de te dizer. Uma delas é que esta noite eu chorei por você. E não foi pouco, não. Foi um choro que varou a madrugada. Quando o sol apareceu, eu saí para o jardim com o travesseiro molhado. Sabe o que eu fiz? Parei no canteiro de rosas e comecei a espremer o travesseiro em cima delas. Não sei se é só conversa de poeta, mas parece que um deles disse que lágrimas de amor fazem florescer as mais belas rosas. Talvez seja verdade, e talvez eu possa daqui a alguns dias mandar uma dessas rosas para você. E talvez ela seja mesmo tão linda que você possa me perdoar, Tiquinha. Promete pelo menos pensar no assunto?

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