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Impressões sobre a vida e seus arredores

Se tu imaginares

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Por Raul Drewnick
Atualização:

Gosto de supor que, apesar de toda a lufa-lufa da vida, consigas reservar um tempinho para os devaneios. Que em certos dias atendas os convites da imaginação. E que, num desses dias, venhas a imaginar um mar bonachão disposto a receber, com mansas ondas domingueiras, um barco e as velas brancas que esse barco há de ter. O céu que hás de imaginar em seguida naturalmente será azul, talvez com duas ou três nuvenzinhas claras, dessas que gostam de ser comparadas com ovelhas. Se o vento as soprar brandamente, elas se movimentarão com a graça que costumam ter as ovelhas, especialmente as imaginárias, e, como serão só duas ou três, é provável que tu queiras dar-lhes nomes, para não confundi-las se repentinamente aparecerem outras nuvens claras. Se pensares em Branquinha, Clarinha e Alvinha, eu acho que são bons nomes. Não conseguiria arranjar melhores. Com o cenário assim desenhado, talvez seja hora de pôr o veleiro na água. Não vai ser problema. Pode ser muito amistoso o oceano quando quer brincar com um barquinho. A esse mar que terás imaginado só faltará falar. Se falasse, diria: pode vir, que estou quentinho. Imagino que seja fácil conduzir um veleiro. Haverás de saber. Se não souberes, não importa. O veleiro há de saber conduzir-te. Uma canção sempre melhora o estado de espírito de qualquer barco e qualquer passageiro. Peço desculpas se sou óbvio, mas me ocorreu sugerir aquela música do barquinho que vai enquanto a tardinha cai. Quando a tarde cair de todo, não te preocupes. As ovelhas serão acolhidas pela lua, que recorrerá à brancura delas para não se ver inferiorizada diante das estrelas, que nessa noite brilharão como poucas vezes, para levar em segurança teu veleiro enquanto, dormindo, sonhares um daqueles sonhos reservados a mulheres como tu, nas quais vive ainda a essência da poesia. Não sonhes comigo. Eu não mereço. Mas, se sonhares, que eu seja só um barqueiro sem nome que terá posto no mar um pequeno barco branco ao qual tua imaginação, dentro do teu sonho, dará num toque a majestade de um cisne, um desses que nadam em qualquer água, doce ou salgada. Serão dois cisnes nesse dia, no mar. Tu e teu veleiro.

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