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Impressões sobre a vida e seus arredores

Falta de jeito

Olhe para mim e me diga se eu posso ser bom de pegada

Por Raul Drewnick
Atualização:

Se o assunto são as habilidades necessárias para lidar com a arte do amor, admito que sou incorrigivelmente nulo. Nunca tive o estilo desejável. Talvez tenha levado até um pouco de jeito, mas isso décadas a.C. Nada mais natural, então, que eu peça a vocês certa condescendência. Essa deficiência em tão importante área de vida me deixou com uma permanente dor de cotovelo (ou dor de cúbito, segundo a nova nomenclatura médica, já não tão nova assim). Sou rancoroso, ressentido, invejoso, e cometo o possível equívoco de não me achar, nessa matéria de desqualidades, muito diferente dos meus semelhantes. Gostaria de me dizer bonito, talentoso e alvo de paixões abrasadoras (com esse lugar-comum e tudo) de mulheres altas, esguias e misteriosas, como aquelas loiras que logo na primeira página das novelas policiais cruzam as pernas diante dos assanhados olhos e do acesíssimo cachimbo do detetive particular. Se mulheres assim me amassem, elas não precisariam conhecer a conjugação dos verbos defectivos nem os truques para desmascarar uma falsa crase, duas das coisas que eu conheço melhor. Talvez, isto sim, elas precisassem ensinar-me a beijar, uma atividade da qual tenho me descuidado desde aqueles remotos anos a.C., e a fazer outras coisinhas das quais confesso gostar, apesar de minha fama de romântico. Tudo que aprendo, aprendo com alguma dificuldade, mas depois dificilmente desaprendo. Espero contar com a compreensão de vocês (todos andam tão engajados nessa história de inclusão...) Como desculpa talvez aceitável, digo que no meu tempo abraço era amplexo e beijo era ósculo. Acredito que possa aprender isso tudo que hoje está na moda. Geralmente, muda o vocabulário mas não mudam as coisas. Como? O que você perguntou? Se eu acho que posso ser bom de pegada? Se você explicar bem o que é, eu posso me esforçar. O nome indica alguma coisa. Se for o que estou pensando, eu posso tentar. E, quem sabe, numa dessas, eu ainda dou um caldo.

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