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Por Redação
Atualização:

O repórter especial do Estadão Lourival Santa'Anna / Foto: Lucas Sampaio (foca 21)

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O sorriso tímido e o olhar que insiste em procurar o chão confundem o interlocutor prestes a iniciar uma conversa com um jornalista que viajou mais de 40 países em busca de grandes acontecimentos históricos e esteve presente nos mais relevantes conflitos armados dos últimos anos.

No lugar de um discurso heroico e intenso, Lourival Santa'Anna - repórter especial do Estadão há quase dez anos - começa a narrar os bastidores de suas coberturas por meio de gestos comedidos e de um tom de voz quase silencioso.

Imagens da Guerra do Líbano, de 2006, ilustram as primeiras histórias contadas sobre os desafios de uma apuração em meio ao fogo cruzado. Entre o relato de uma noite sob um bombardeio e do longo dia em que cruzou a fronteira para Tskhinvali, na Ossétia do Sul, os gestos se intensificam e apresentam outro Lourival - um sujeito disposto a arriscar a própria vida pela notícia que pode escapar entre um míssil e outro, um jornalista que saltou do carro em movimento para fugir da morte.

Aos poucos, o repórter brasileiro com cara de ossetiano vai deixando escapar a timidez e os pormenores de sua rotina em meio ao caos. A obsessão pelos detalhes dos cenários presenciados e a disposição para viver a realidade de cada país - longe dos "safáris jornalísticos da imprensa internacional" - ajudam a explicar a sensibilidade transmitida em cada matéria assinada por Lourival.

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Fotos de brinquedos, óculos, cartazes e outros objetos que sinalizam as vidas vividas antes dos escombros incitam a pergunta inevitável: como não enlouquecer em meio a tanta tristeza?

"Me desligo emocionalmente. Quando estive no Haiti, após o terremoto, cheguei a evitar uma música clássica no rádio para não me humanizar. Só começo a sentir quando eu volto."

Já quase à vontade diante de interlocutores embevecidos com suas histórias, Lourival confessa que sente, sim, medo de morrer nos conflitos. Em 2010, ele completa duas décadas no Estadão, onde desfruta de prestígio e de um histórico nos cargos mais importantes do jornal, mas sabe muito bem o que o motiva a sair de sua zona de conforto e retornar aos campos de batalha.

"O dia a dia nos anestesia e a gente acaba esquecendo as coisas que realmente importam. Eu gosto de ver a natureza humana em seu extremo para nunca me afastar dessas questões."

Érica Saboya, de 24 anos, cursa o último semestre de Jornalismo na PUC-SP Foto: Estadão
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