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Reflexões ambientais

Aquecimento Global: das previsões para as constatações

Por Dener Giovanini
Atualização:

Na data de hoje o jornal The New York Times publica, em página inteira, um Alerta Mundial sobre o Aquecimento Global. Tive a honra de ser selecionado para estar entre os 160 ambientalistas de 44 países que assinaram esse histórico manifesto. O objetivo dessa ação é chamar a atenção do planeta para a Cúpula Mundial do Clima, organizada pelas Nações Unidas e que será realizada em New York no próximo dia 23.

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Os signatários do Alerta apelam aos investidores internacionais para que redirecionem suas aplicações para iniciativas que priorizem a utilização de fontes de energia menos poluentes.

Infelizmente é possível constatar que as iniciativas governamentais da comunidade internacional, para enfrentar o Aquecimento Global, têm sido cada vez menos intensas e cada vez mais frágeis. O que está em jogo é a própria economia mundial, hoje sustentada e impulsionada pelo uso de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão.

O fato de o Brasil focar o seu desenvolvimento na exploração irracional de commodities e, particularmente, por ter cerca de 30% do seu Produto Interno Bruto (PIB) sustentado pelo agronegócio, torna a nossa nação ainda mais vulnerável aos humores climáticos. O que temos visto nos últimos anos, em termos de gestão pública nessa área específica, não é nada animador. E não me refiro apenas ao governo central. Os Estados também tem negligenciado de forma sistemática esse tema.

As torneiras secas no estado de São Paulo são prova inequívoca do quanto estamos trilhando um caminho perigoso. A falta de planejamento e de investimento, aliada a uma percepção equivocada e irresponsável no trato com os recursos naturais do país, podem nos levar a situações ainda mais dramáticas. E isso não é alarmismo ou incitação ao pânico. Há dez anos, quem previsse as imagens de terra rachada, que hoje vemos nos reservatórios paulistas, seria sumariamente tachado de catastrofista e irresponsável.

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Mesmo muito falado, debatido e exposto em manchetes nos últimos anos, o Aquecimento Global ainda é um tema confuso e distante para o cidadão comum. Nós, jornalistas e ambientalistas, temos fracassado no diálogo com a sociedade. Não conseguimos traduzir de maneira clara e objetiva de que forma esse tema irá impactar o cotidiano das pessoas. Para a grande maioria da população, os temas ambientais são complexos e acabam por se transformar apenas em um amontoado de números e estatísticas nas páginas de jornais e na telas das TVs. E no final, o inconsciente do receptor dispara sempre a mesma pergunta: e eu com isso?

Um caso que está acontecendo nesse momento ilustra bem a situação exposta no paragrafo anterior.

A hidrovia Tietê-Paraná, com 2.400km de extensão, é o principal meio de escoamento da produção agrícola de cinco estados brasileiros: São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Há meses ela está inoperante devido ao baixo nível de suas águas. A forte estiagem que se abateu nessa região do país, diminuiu consideravelmente o fluxo de água da bacia hidrográfica que sustenta a hidrovia. Resultado: em pleno período de colheita da safra de grãos, os fazendeiros perderam a sua principal via para fazer chegar aos grandes centros a sua produção. Para tentar contornar esse problema, está sendo necessário transportar a safra através das rodovias. Isso significa 45 mil caminhões a mais nas estradas. E o consumidor com isso? Simples: ele vai pagar essa conta, já que o transporte rodoviário é três vezes mais caro do que o hidroviário.

O cidadão comum e o Aquecimento Global irão se encontrar nas prateleiras dos supermercados.

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