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Canon G1 X: sensor grande, frustração ainda maior

Vocês sabem por que as pessoas andam por aí carregando aquelas imensas câmeras pretas S.L.R., não é? Podem acreditar: não é uma questão de moda.

Por David Pogue
Atualização:

Vocês sabem por que as pessoas andam por aí carregando aquelas imensas câmeras pretas S.L.R., não é?

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Podem acreditar: não é uma questão de moda.

Não, elas circulam por aí com tais câmeras porque estes modelos contêm sensores grandes. Se existe uma característica técnica capaz de indicar a qualidade de uma foto, esta não é a quantidade de megapixels, e sim o tamanho do sensor. Sensores grandes possibilitam fotos ótimas com pouca luz - e a capacidade de criar atrás da pessoa fotografada aquele fundo borrado digno de fotógrafos profissionais.

O avanço mais animador no ramo das câmeras nos últimos dois anos foi a câmera pequena dotada de um grande sensor. Fiquei particularmente interessado no lançamento da nova Canon G1 X: uma câmera portátil, de bolso, equipada com zoom e um sensor imenso: 2,48cm de diagonal. É quase o dobro do tamanho do sensor APS-C encontrado em câmeras S.L.R. como a Canon Rebel. É 16% maior do que o sensor Four Thirds usado por Olympus e Panasonic, e mais de seis vezes o tamanho dos sensores usados nos modelos anteriores da Canon G (e na maioria dos demais modelos compactos).

A G1 X é a mais recente na longa linhagem das peculiares câmeras cult e clássicas da série G, da Canon (G10, G11, G12...). Peculiares porque são câmeras de uma só peça que traz muitos recursos procurados pelos aficionados pela fotografia de qualidade: corpo metálico, sapata para o encaixe de acessórios, controle manual total, uma porção de botões que podem ser personalizados a gosto, e um visor ocular de verdade. Não dá para trocar a lente desta câmera. Como sua antecessora, a G1 X tem uma fantástica tela móvel que permite ao fotógrafo fazer imagens por cima da cabeça, a partir da altura dos quadris ou até olhando para a própria lente.

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Mas o imenso sensor eleva a G1 X a um outro nível.

Passei alguns meses usando a câmera que eu estava louco para amar, e devo dizer que fiquei um pouco desapontado com ela. Coisa que, para um grande fã confesso da Canon, é muito difícil de admitir.

Em primeiro lugar, trata-se de uma bugiganga desajeitada e feiosa, cheia de quinas e saliências; se as melhores câmeras do mundo fossem submetidas a um teste aerodinâmico, este modelo seria o último colocado, sem dúvida. Mas tudo bem: os fãs da série G não compras estas câmeras por causa da sua aparência.

O visor é outro problema. Acho ótimo que a Canon não tenha se rendido totalmente à tendência moderna de eliminar o visor ocular, que ainda traz vantagens em ambientes de luz muito brilhante ou muito fraca. O ruim é que - acredite se puder -, nesta câmera, o corpo da lente bloqueia parte do visor. Não estou brincando. Quando aproximamos o visor dos olhos, cerca de um quinto do quadro é bloqueado pela própria lente. É impossível compor uma foto adequadamente desta forma.

Bem, quando usamos o zoom completo de 4X, a lente deixa de atrapalhar.

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Ainda assim - como é possível que tenham desenvolvido uma câmera de destaque sem reparar nisso?

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Para aqueles que sabem o que estão fazendo, as fotos são excelentes, embora dificilmente cheguem ao nível de uma S.L.R. de verdade. O efeito do fundo borrado - tecnicamente, a baixa profundidade de campo causada pela grande abertura - não é fácil de produzir. Para que usar um grande sensor se não é possível conseguir o fundo borrado?

Outros problemas: a duração da bateria é de apenas dois terços do modelo anterior, produzindo 250 fotos por carga, o que é pouquíssimo. O foco é tão lento que chega a ser frustrante, principalmente quando o zoom está ligado.

O zoom parece precisar de um momento para ser ativado a partir do momento em que apertamos a alavanca (que envolve o botão do obturador). O modo contínuo de alta velocidade é lentíssimo, produzindo 1,6 imagem por segundo. (Existe um modo que faz 4,5 fotos por segundo - limitado a seis imagens, no máximo -, mas é preciso abrir mão do controle sobre a exposição, o balanço de cores e a sensibilidade ISO, e a tela fica completamente escura enquanto as imagens são feitas!)

Mas o mais estranho é que tive dificuldades para evitar os borrões causados pelo movimento no modo automático. O que quero dizer é que, se alguma parte da pessoa fotografada estivesse em movimento, a foto saía borrada, por melhor que fosse a luz. Trata-se de algo que não se vê há anos. Numa câmera equipada com um sensor gigantesco? Aquilo não fazia nenhum sentido!

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Fiquei tão perplexo que escrevi à Canon para comentar o problema, e recebi prontamente a seguinte resposta: "O modo totalmente automático da PowerShot G1 X foi desenvolvido para retratos de indivíduos parados".

Espere aí, como é?! Oitocentos dólares por uma câmera desenvolvida para fotografar naturezas mortas?

É isso mesmo. A Canon sugere que, se a ideia for tirar a foto de algo em movimento, é melhor mudar para o modo P e aumentar a sensibilidade à luz (ISO), ou mudar para o modo Cena e escolher um modo como Esportes.

É a coisa mais estranha que já ouvi.

Os vídeos deveriam ser fantásticos. A câmera filma com qualidade completa de alta definição (1080p), conta com um botão específico para iniciar e interromper a filmagem e tem microfones estereofônicos. É também capaz de alterar o zoom e o foco durante a filmagem, talento ainda relativamente raro entre as câmeras.

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Na prática, as mudanças no zoom e no foco são tão lentas que arruínam muitas cenas. Leva seis segundos para se chegar ao zoom de 4X durante a filmagem, e um período quase igual para acertar o foco novamente. Doloroso.

Está bem, admito que estou me concentrando nos defeitos. A câmera tem também muitos aspectos positivos: ótima ergonomia, botões justamente onde precisamos deles, e fotos maravilhosas, entre outras qualidades. (Alguns exemplos de imagens podem ser vistos aqui)

Mas, mesmo assim, por US$ 800, acho que o consumidor pode encontrar opções bem melhores. A incrível série NEX, da Sony, me vem à cabeça, por exemplo. Estas câmeras são bem menores do que a G1 X, mas elas também têm sensores proporcionais aos das S.L.R.s dentro de si. É claro que as lentes removíveis das NEX aumentam o volume da câmera, tornando-a menos portátil. Mas, no geral, estas câmeras vão frustrar e desapontar o usuário com frequência muito menor. Além disso, elas trazem o incrível recurso Sweep Panorama, da Sony, que é incrivelmente útil.

A ideia de um sensor quase do tamanho do de uma S.L.R. numa câmera portátil que cabe no bolso é uma espécie de Santo Graal; faz mais de uma década que espero por algo assim. Francamente, trata-se de um notável feito da engenharia.

Então, torçamos para que a Canon encare a G1 X como um protótipo, uma experiência de aprendizado - e que a empresa supere totalmente esta primeira tentativa com o lançamento do modelo do ano que vem.

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* Publicado originalmente em 24/5/2012.

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