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O saber dos pais, as invenções dos filhos e o conhecimento dos especialistas

Meu filho ainda não fala... quanta preocupação

Fazer a passagem de bebê para menino(a) passa pela aquisição da linguagem. O que uma criança precisa para falar? Alguém que converse com ela.

Por Marta Gimenez Baptista
Atualização:

Num mundo onde tudo tem urgência, pobre da criança que demora pra falar. As exigências são muitas! Todo mundo pergunta:"Ele fala pouquinho, né?" "Ele não fala ainda?"

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Com tanta cobrança e aceleração imposta pela vida moderna, a ansiedade faz com que as pessoas procurem na internet ("Dr. Google") uma explicação para o que acontece com o filho, já imaginando um diagnóstico mesmo antes de consultar um clínico. Os pais chegam aos consultórios com nomes de patologias e informações que, na maioria das vezes, só desencadeiam ainda mais ansiedade e equívocos sobre uma possível patologia.

É claro que temos aquelas crianças que, quando infelizmente há algo do orgânico interferindo no desenvolvimento, podem apresentar um atraso em sua aquisição da linguagem por este motivo.

Mas quem se pergunta: o que precisa uma criança para falar?

Fazer a passagem de bebê para menino(a) passa pela aquisição da linguagem. Ser alguém que demanda, poder se relacionar e estarem interlocução com o outro pertencem a este momento.

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Aquele bebê que no início da vida era tão quietinho, tão dependente do adulto, vai pouco a pouco descobrindo o mundo e sendo posicionado no lugar de falante. É preciso que se considere a criança como quem tem o que dizer. Num primeiro momento a mãe ou quem cuida da criança vai "adivinhando" o que ela tem intenção de manifestar, de comunicar, falando por ela e emprestando-lhe o que ainda não tem. "Você tá com fome?"; " Puxa, essa fralda suja deve estar te incomodando..." ou "Ah,que soninho!" entre outras falas muitos usadas pelas mães na rotina com um bebê.

Considerar que o bebê tem algo a dizer é poder supor que ali tem um pequeno ser falante, com desejos e que deve ter lugar para se manifestar do jeito que puder. Num primeiro momento com o corpo, com olhares, caretinhas e choros. À medida que cresce, vai descobrindo novas formas, como piscadinhas e sorrisinhos pra conseguir algo, por exemplo. Quem nunca foi seduzido por um bebê que usou desse recurso para conseguir o que queria?

Mas vamos percebendo que o bebê cresceu e não é mais bebê, pois acontece uma explosão de descobertas motoras e sensoriais quando o pequeno vai conhecendo o mundo, engatinhando e andando por aí. A linguagem caminha junto com esse crescimento, pois o pequeno que agora não é mais bebê está descobrindo novidades e quer saber, e pra saber é preciso perguntar. Pra perguntar é preciso estar sem a chupeta na boca, sem a mamadeira na boca (objetos de bebê) e próximo a alguém que o escute e possa responder - melhor que isso, que possa CONVERSAR COM ELE.

Por volta dos dois anos, a criança já consegue fazer frases, e entre os dois e três anos também inicia pequenos relatos. Então é comum escutarmos "que água" ou " dá bola" , ou ainda que o filho nos conte algo sobre a escola ou sobre uma brincadeira que vivenciou com um amigo de uma forma simples e até fragmentada, como "Lucas correu...". É importante lembrar que a criança, neste momento, ainda não consegue situar um contexto pelas palavras, porque está em aquisição e apropriação de sua fala/linguagem. E isso leva algum tempo.

O que uma criança precisa para falar? Alguém que converse com ela. Conversar quer dizer: um fala, outro responde; outro comenta e o outro pergunta; um sorri, o outro também... Diferentes linguagens podem ser usadas numa conversa. Expressões, olhares, tons de voz diversos. Conversar, nos diz o dicionário, é falar com alguém, é sondar o pensamento ou os sentimentos do outro.

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Para que uma conversa continue é preciso o olhar do outro, a entonação (modulação na voz que é uma característica muito singular que nos marca como pessoas), as expressões do outro, ou seja, há convocação. São marcos fundamentais que nos fazem seres humanos, saudáveis e com marcas distintas.

Poder brincar e experimentar está diretamente ligado à construção da linguagem. Estar na relação em interlocução com o outro adulto ou com outra criança é condição fundamental para "aprender a falar".

 

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