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Pra você entender o mundo dos animais

História de Natal!

O carro já tinha sido retirado da garagem do imóvel na Rua Cecília Davi, no bairro de Pirituba, e a aposentada Vanda Souza Ribeiro, de 57 anos, aguardava ao volante a sua sobrinha chegar - ela havia ido buscar um chinelo esquecido em sua casa - para seguirem a viagem. O destino era a cidade de Machado, interior de Minas Gerais, onde passariam o Natal com os parentes. Mas o que seria mais um passeio em família se transformou em momentos de dor.

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Por fabiobrito
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Os poucos minutos de espera foram suficientes para que um marginal chegasse com uma arma e anunciasse o roubo do carro, com toda a bagagem e, o mais importante, com os cães Benji Luiz e Laila Cristina.

Tudo aconteceu na tarde do dia 2/12, de forma violenta e marcante. Acostumados a passear, eles já estavam dentro do veículo quando Vanda foi literalmente arrastada para fora do carro. Ela pediu ao ladrão que a deixasse pegar apenas os seus cachorros, considerados como verdadeiros filhos, mas nem as súplicas e as lágrimas derramadas foram suficientes para que o meliante cedesse e deixasse os animais serem retirados.

Ao contrário, ele a empurrou e partiu com o carro, causando ferimentos físicos e emocionais, em uma pessoa que havia tido uma perda recente. "Minha irmã morreu há pouco tempo, depois de meses lutando contra uma doença. Fiquei muito abalada, mas já esperávamos que ela descansasse. Mas vou dizer que depois da sua morte eu e minha sobrinha nos apegamos ainda mais aos nossos cães e a dor de tê-los tirados de nós foi tão grande quanto à sua partida", afirma emocionada.

Mesmo muito machucada, Vanda andou pelo bairro, procurou em clínicas e pediu ajuda aos amigos na tentativa de achá-los. "Não me importava com o carro nem com o que tinha lá, só queria meus cachorros de volta." A preocupação era grande porque Benji Luiz, um poodle de 7 anos, e Laila Cristina, sem raça definida, de pouco mais de 5 anos, foram criados dentro de casa e são muito dependentes da dona. Dificilmente sobreviveriam em um ambiente tão hostil quanto as ruas.

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O que aconteceu com ela é mais do que cruel, mas não incomum. Há quase dois meses, um carro de um hotel para cachorro foi roubado na zona sul e dentro estava um cão da raça schnauzer, chamado Sheep, que também foi levado pelos assaltantes. Infelizmente não houve final feliz, o cão foi encontrado morto dias depois, no porta-malas do automóvel.

Religiosa, Vanda mostrou-se forte e determinada a achar seus cães, apegando-se principalmente a sua fé, mas nunca desistindo de buscar da forma que podia seus melhores amigos. Quer tenha havido alguma ajuda divina ou não, uma semana depois seu carro foi recuperado em uma blitz da polícia. "Fui chamada para identificar o suposto assaltante, mas, apesar de ser o meu veículo, o motorista não era a pessoa que me roubou. Minha preocupação não era nem o carro, mas sim a possibilidade de saber onde estavam meus cães", explica.

Com a prisão do suspeito as sua chances aumentariam. Afinal, ele poderia lhe dizer onde a pessoa que roubou o carro com Benji e Laila os teria deixado. O motorista era um rapaz de 19 anos, chamado Bruno, e, como não era o assaltante, foi liberado.  "Mas a informação estava ali, no Boletim de Ocorrência, em minhas mãos. Como eu tinha o seu endereço, pedi força a Deus e fui atrás. Era a oportunidade de saber onde eles estavam e ter uma direção para procurá-los."

O carro havia sido encontrado no bairro da Brasilândia e ele mora em um conjunto habitacional da região. "Eu fui sozinha e procurei pela mãe do jovem, a informação também estava no BO. Bati e ele abriu a porta. Eu tremia e chorava. Expliquei que eram os meus cães que estavam no carro e que são muito importantes para mim. Nesse momento passei mal e ele tirou tudo o que estava sobre o sofá e pediu para eu sentar. Deu-me água, foi atencioso e educado. Disse que o carro havia lhe sido emprestado para que ele pudesse levar seu filho ao médico, mas que seu amigo havia dito que soltou os cães no Cantagalo."

A direção estava finalmente sendo traçada, mas como sair andando por um bairro grande à procura dos animais. "Li em sites de ONGs que o ideal era contratar um carro de som para divulgar. Foi difícil achar, mas consegui um senhor que me cobrava R$ 30 por hora." No primeiro dia da jornada, na quarta-feira (21/12), foram duas horas anunciando. "Com a sua bela voz ele dizia: 'Cães perdidos. Um poodle, com nome Benji. Uma cadela, sem raça definida, chamada Laila. A família está preocupada e recompensa quem tiver informações'."

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No momento em que o locutor disse o nome da Laila, passando pelas ruas do bairro indicado pelo motorista, Vanda, que estava no carro de som com a sua sobrinha, não acreditou. Como um tiro a pequena cadela surgiu em um portão e pulou ao ouvir o seu nome. A aposentada correu para o local, tocou a campainha, mas ninguém atendia. A esperta Laila sabia o que tinha de fazer: pulou novamente e saiu pela grade. O primeiro reencontro aconteceu e um bilhete de agradecimento foi deixado na caixa do correio, com o telefone da verdadeira tutora.

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Mas a busca não havia terminado: Benji ainda estava desaparecido.  No outro dia, mais uma vez a tática do carro de som foi colocada em prática. Passaram por ruas próximas ao local onde Laila foi encontrada e, poucos metros depois, um assovio chamou a atenção dos caçadores. Um rapaz, servente de pedreiro, perguntou como era o cão. "Depois de explicarmos suas características foi o detalhe da coleira vermelha, que minha sobrinha lembrou, que comprovou que estávamos falando do mesmo cachorro."

Pedida a autorização ao chefe da obra, Vanda acompanhou o jovem até a sua humilde casa e lá estava o Benji, alegre ao rever a sua amiga.

Isso prova que, mesmo com tanta violência, ainda há esperança. Para a aposentada, a proximidade do Natal foi uma experiência ruim, mas no fim demonstrou que a fé, coragem, determinação, responsabilidade e, mais do que tudo, o amor são verdadeiros sentimentos aos quais o ser humano deve se apegar, independentemente da espécie com a qual vai compartilhar. "Os meus presentes de Natal estão em casa, ao meu lado como sempre."

 Foto: Estadão

A cadela Laila, a dona Vanda e o poodle Benji

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FOTO: CLAYTON DE SOUZA/AE

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