Todos querem ser do rock - quem diria, o rock é exemplo...

Maiara Camargo

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Por Redação
Atualização:

Elvis Presley com seu topete estilo teddy boy e suas calças jeans. As batas, anéis e colares de Janis Joplin. Os Beatles usando terninhos e gravatas finas. David Bowie montado com extravagantes botas acetinadas, ombreiras e peças chamativas. Sid Vicious e a agressividade de roupas rasgadas. Kurt Cobain com as clássicas camisas de flanela xadrez.

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Desde que seus primeiros acordes soaram, o rock'n'roll passou a influenciar a moda, com seu estilo rebelde e descolado, e que hoje conquista cantores e bandas que fazem um som totalmente diferente do rock.

Grupos de samba, axé, forró e sertanejo estão se apropriando de elementos dos guarda-roupas dos roqueiros, sem se importar com a inusitada mistura.

Os integrantes da banda de pagode Inimigos da HP, por exemplo, deixaram de lado o visual que marcou o gênero nos anos 90 - ternos, óculos na cabeça e correntes de ouro - para adorar um visual, digamos, mais rock.

Para Sebastian Matias, o Sebá, 39 anos, vocalista da banda, o estilo de calças, camisetas, tênis e acessórios reflete o interesse deles por outros ritmos. "Não estamos negando o nosso som. Mas não temos medo de misturar", diz. "Cada artista leva para o palco gostos e influências que tem. Acho que o rock permite ousar mais", destaca ele.

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O que torna o caso dos Inimigos da HP ainda mais curioso é que eles dividem a mesma personal stylist, Malena Russo, com os coloridos do grupo de happy rock Restart e com os jovens vampiresco da CW7. A stylist conta que assumiu o look dos músicos há 1 ano, graças a uma parceria com Guto Campos, empresário dos artistas.

 Foto: Estadão

"Cada banda tem um estilo. E mesmo dentro de cada grupo, os músicos têm suas preferências pessoais", conta Malena. Para ela, não há estranhamento no figurino com referências ao rock usados pelos rapazes do Inimigos. "Antigamente, cada grupo tinha um único estilo. Hoje, há mais liberdade. As pessoas podem mesclar vários estilos. Ninguém deve se prender aos estereótipos. Por isso, eles fogem da imagem padronizada do pagode".

Quem também foge do figurino típico do estilo de som que faz é o baiano Fabrício Kraychete, o Tomate, 28 anos, que toca axé em Salvador. Em suas roupas, ele abusa de peças pretas, como costumam fazer os roqueiros. "Sempre tive o sonho de misturar influências da minha terra e o meu gosto. Eu amo axé, assim como amo rock", afirma.

Outro nordestino que não toca rock, mas traz no guarda-roupa peças que remetem ao gênero é Reginho, Reginaldo Alves, 39 anos. Nascido no Recife, o compositor ganhou destaque no início deste ano, com o hit Minha Mulher Não Deixa Não.

Embora saiba que seu visual - braceletes de couro, tênis, blusas e calças justas - pode confundir, ele não abre mão do jeitão meio desarrumado. "Uma vez, cheguei para fazer um show e me perguntaram se era eu o cantor de rock que ia tocar Legião Urbana", lembra Reginho, que está muito mais para Reginaldo Rossi do que para Lobão.

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Rock fashion

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Testemunha viva história do rock, o cantor, radialista e escritor Kid Vinil, 56 anos, diz que a preocupação dos roqueiros com o visual ganhou força nos anos 80. "Com o punk e a new wave, as bandas começaram a se produzir mais, apareceram os primeiros estilistas e lojas de roupa dedicadas aos roqueiros no nosso País", conta. "Isso acabou refletindo em estilos de música que surgiram depois, como o sertanejo e o pagode", lembra.

Para ele, elementos do visual roqueiro estão ainda mais comuns agora. "Hoje, os sertanejos universitários, tipo Luan Santana, vestem calça skinny, camisetas coladas e acessórios, como os cintos de tachas", diz. "O jeans intencionalmente rasgado é praga em qualquer banda de forró, pagode ou sertanejo. Na década de 70, só os Ramones usavam, e não era intencional. O jeans rasgava porque era usado até o osso", diz.

 Foto: Estadão

Apontado como um dos cantores da nova geração que compõem o visual com toques roqueiros, o sertanejo Luan Santana diz que suas roupas têm a ver com seu 20 anos e não com o ritmo. "Eu não acho que uso roupas de roqueiro. Apenas gosto de tênis, camisa xadrez e calça jeans", afirma.

Mas e os clássicos chapéu, bota de caubói e cinto com fivela, típicos dos sertanejos? "Isso não faz meu estilo. Tem quem use e fique legal. Pra mim, não ficaria bom", diz.

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Para a consultora de estilo Titta Aguiar, o problema dos artistas que optam por misturar seu estilo com o rock é que o visual pode transmitir uma mensagem completamente errada. "Não é bacana transformar, por exemplo, um sambista num roqueiro. O resultado pode ser um choque para o público", explica. "Se a maneira de a pessoa se vestir não convencer, pode ser que a música dela também não convença".

Quem insistir na ideia não deve exagerar. "O músico pode brincar com um elemento por vez. Usar um bracelete de couro, uma jaqueta, mas nada muito pesado. Do contrário, a banda pode se desviar dos seus interesses", alerta Titta Aguiar. Mas parece que os grupos e cantores de outros ritmos e que fazem de tudo para ter um visual rock não estão muito preocupados com isso.

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