Mulher feia no rock é raridade

Marcelo Moreira

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

"Mulher feia não tem vez no rock e no metal. Pode cantar e tocar muito, mas não terá chance." O papo é de boteco, e a frase totalmente "politicamente incorreta" foi desferida no show de Doro Pesch em São Paulo no mês passado. Ainda muito bonita aos 47 anos, a cantora alemã mostrou carisma, charme e um metal de respeito, merecendo o título de "Metal Queen".

PUBLICIDADE

E o cidadão autor da frase, do alto de seus 40 anos, lista todas as vocalistas que fazem algum sucesso no gênero hoje: Simone Simmons (Epica), Amanda Somerville, Tarja Turunen, Cristina Scabbia (Lacuna Coil), Liv Kristine Espenaes, Angela Gossow (Arch Enemy), Anekke van Giesbergen (Agua de Annique), Floor Jansen (After Forever), Sharon del Aden (Within Temptation), e por aí vai. "Todas lindas e talentosas. Se fossem feias, não estariam cantando em bandasou fazendo algum sucesso", arremata.

 Foto: Estadão

Típico assunto de arquibancada, onde ninguém tem razão, mas que acaba ganhando força quando exemplos do outro lado são citados. Quais são as feias que conseguiram grande destaque?

Janis Joplin nunca foi um modelo de beleza, mas talvez não se enquadre no termo feia. Meg White? Talvez se enquadre. Qual outra? Angela Gannon, dos ingleses do Magic Numbers? Ok, ela é obesa e não canta lá muito bem, mas teve algum destaque. E o que dizer de Beth Ditto, da banda Gossip, que está fora de qualquer padrão convencional de beleza (para dizer o mínimo)?

 Foto: Estadão

Puxando pela memória, achamos alguma cantora feia, ou mesmo instrumentista? As vocalistas do The Mamas and the Papas não eram bonitas, longe disso; Maggie Bell (Stone the Crows) e Sandy Denny (Fairport Convention) não tinham a beleza das musas Grace Slick (Jefferson Airplane) e Annie Haslam (Renaissance), mas não eram exatamente feias. Nas Runaways, Joan Jett, Lita Ford e Cherie Currie eram bonitas, mas no Girlschool somente se destacaria neste quesito Kelly Johnson.

Publicidade

O fato é que o rock é um meio inóspito para as mulheres. Se for bonita, ajuda bastante, mas ainda assim terá de conviver com as constantes desconfianças e comentários nojentos do tipo "só está na banda para atrair público masculino e estampar as capas de CDs".

A MPB e o blues são mais democráticos e acessíveis. Por mais que tenhamos uma overdose de cantoras brasileiras nos últimos tempos que cantam razoavelmente bem e são bonitas  - Juliana Kehl, Mariana Aydar, Céu, Marina de la Riva e mais uma dúzia delas - sempre haverá espaço e até público para aquela que está longe de ser bela, mas que canta bem. Idem no blues.

 Foto: Estadão

No rock nacional Pitty não tem rosto nem corpo de modelo, mas está longe de ser feia. Dani Nolden (Shadowside), Stefanie Schirmbeck (Holiness), Camila Raven (ex-Raveland), Alexandra Limabos (ex-Thalion), Meg Stock e Clarissa Moraes (Illustria), só para citar alguns exemplos, são mulheres lindas que cantam (e bem) em bandas de rock e heavy metal e chamam muito a atenção. Será que se o Shadowside tivesse uma boa cantora, mas não tão bonita, teria alcançado o atual patamar?

O machismo predomina no meio e vai predominar por muito tempo. A discussão sobre a beleza no meio musical pode ser estéril desde começo, mas ao menos faz pensar. Tente lembrar a última mulher feia que fez grande sucesso no rock nacional ou internacional. Eu estou com dificuldades...

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão

 Foto: Estadão
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.