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Morten Harket, ex-A-Ha, meditando pelo pop

JOTABÊ MEDEIROS

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Por Redação
Atualização:

 A banda de synth pop norueguesa A-ha foi uma das maiores dos anos 1980 (chegou a reunir 160 mil pessoas no Rock in Rio 2, em 1990, um recorde) e seus hits de rádio dariam para fazer a programação de uma rádio durante um mês a fio. Take on Me, Stay on These Roads, Crying in the Rain, Hunting High and Low: peças que tiveram impacto em todas as classes, faixas etárias e gostos.

A responsável por esse sucesso é a voz aveludada de Morten Harket, de 52 anos, o cantor e líder da banda, a caminho de São Paulo para o lançamento de Out of My Hands, seu quinto disco solo, em show no Credicard Hall, no dia 26. Ao mesmo tempo, ele participa, com os antigos colegas, dos shows em celebração de 30 anos do A-ha em Oslo, nos dias 14 e 15.

 Foto: Estadão

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Muita gente diz que o A-ha antecipou coisas em seu auge, como o techno, algumas ramificações da dance music. O que acha disso?

Não penso sobre isso, não tenho a medida dessas contribuições. Deixo isso para os jornalistas de música. Óbvio que acho interessante que as pessoas digam que tenham sido influenciadas pelo A-ha, que tenham desenvolvido algo a partir do nosso som. É lisonjeiro, mas não tenho preocupação a respeito disso. A celebração dos 30 anos do A-ha, este mês, vai acontecer por sugestão dos fãs, que queriam muito isso. Não foi uma escolha minha, foi um pedido.

Acha o pop atual chato? Gosta de Lady Gaga, por exemplo?

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Não tenho interesse, não ouço muito rádio. Estou curioso sobre a vida real, e estou fazendo minha música como uma resposta a essa minha observação da vida. Antes do A-ha, eu até ouvia bastante outras coisas, mas hoje quase nada. Lady Gaga é interessante, embora comercial. Não há uma identidade. Se as nossas canções sobreviveram ao tempo, foi porque nós tentamos compor sobre as coisas que conhecíamos, que vivenciávamos. Aquilo que era a nossa verdade naquele momento, como seres espirituais. Eu me mantenho à procura das coisas que me são essenciais. Nunca focamos no sucesso. Se você ouve o rádio, vê que há uma luta ali para testar as pessoas, estão à procura de algo que ludibrie as pessoas, mas não há verdade.

Mas a vida não se passa só no interior da gente. Há os aspectos externos, a política, a crise econômica mundial. Isso não o aflige?

Essencialmente, nós, como seres humanos precisamos primeiro entender quem nós somos. Com a arte, estimulamos o entendimento do que somos, ajudamos a clarear as coisas, a fazer o homem se analisar, descobrir sua identidade. O que vemos e como descrevemos isso é o que podemos fazer para mudar o mundo. Acho que a crise que vivemos só pode ser contornada se o homem desvendar quais são os valores que o motivam hoje em dia. E quais são esses valores? O sistema do dinheiro é o sistema dos valores atual. Por que o homem não reconhece que é parte da natureza? Precisamos entender isso, porque é o que está nos projetando numa crise de identidade. Não estamos nos autogerindo, mas nos deixando carregar. Estamos indo contra a natureza.

E uma música que auxilie esse despertar seria o ideal?

Não acredito em propaganda, mas em responsabilidade. Não acredito em música que carregue lemas, advertências, mas que ajude a revelar qual é a essência do humano. E que o faça ver que tudo está em nossas mãos.

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Curiosamente, seu novo CD se chama Out of My Hands. É uma descrição do seu estado de espírito?

É o título de uma das canções do disco. Não há um sentido único nessa letra. Como uma pintura, pode ter várias leituras: pode significar algo que fiz, doei e os ouvintes pegaram para si. Saiu das minhas mãos. É como é a vida: a gente nasce de alguém, mas aí é do mundo. Está fora das mãos da gente, está no universo.

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