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Mundo em Desalinho

Tudo pela social: China planeja crescimento inclusivo

"Crescimento inclusivo" será o grande tema do Plano Quinquenal que dará as linhas do desenvolvimento chinês entre 2011 e 2015, quando Pequim promete dar menos ênfase aos números do PIB e mais atenção às questões sociais negligenciadas nas últimas três décadas de reforma e abertura.

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Por claudiatrevisan
Atualização:

A nova orientação é aprovada no momento em que a insatisfação popular com a inflação alcança o maior patamar em 11 anos, o preço dos imóveis atinge patamares estratosféricos e o ressentimento em relação à desigualdade e o privilégio se acentua.

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O aumento do poder aquisitivo da população ocupa lugar de destaque no plano, que será aprovado na reunião anual do Congresso Nacional do Povo, iniciada sábado em Pequim. Pela primeira vez, o documento prevê que a renda terá que crescer em termos reais na mesma proporção do PIB, disse ontem o ministro da poderosa Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, Zhang Ping, em entrevista coletiva sobre o plano. A meta para os dois indicadores foi fixada em 7% ao ano até 2015.

A obsessão pelo crescimento será amenizada, enquanto os temas sociais ganharão relevância. A mudança de tom ficou clara na pergunta realizada pela repórter da agência estatal de notícias Xinhua, que atua estritamente dentro dos limites oficiais. A jornalista observou que se tornou um lugar comum entre os chineses dizer que cada ponto de crescimento do PIB ou cada aumento na arrecadação do governo raramente é acompanhado de melhoria na qualidade de vida da população.

O aumento da renda e dos recursos destinados à área social faz parte do esforço mais amplo de Pequim de mudar o padrão de desenvolvimento do país, com redução da dependência das exportações e do investimento e elevação do consumo doméstico como motores do crescimento.

Essa reestruturação é essencial para a correção dos desequilíbrios da economia global que estiveram na origem na crise financeira iniciada em 2008, dos quais o principal exemplo é o excesso de poupança da China e de consumo nos Estados Unidos.

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Para consumir mais, a população precisa não só ter salários mais altos, mas também contar com uma rede de proteção social que diminua a necessidade de poupar. Atualmente, a maioria dos chineses tem que guardar dinheiro para pagar despesas médicas, a educação dos filhos e a aposentadoria. A intenção do governo é aumentar a cobertura dos serviços públicos nessas três áreas. "Se você morar no campo ou na cidade, na região leste ou oeste do país, terá direito aos mesmos serviços públicos básicos", afirmou Zhang, tocando em outra fonte de insatisfação entre os chineses, que é o tratamento diferenciado entre habitantes da zona rural e urbana.

O ministro ressaltou que o governo "deliberadamente reduziu a natureza vinculante das metas de crescimento". O mais importante agora serão a "eficiência e a qualidade" do aumento do PIB

Pesquisa realizada pela Xinhua e o portal Sina com 1 milhão de internautas pouco antes da abertura do Congresso indicou que os principais tópicos de preocupação da população eram o preço dos imóveis, a má distribuição de renda, inflação, combate à corrupção e iguais oportunidades de emprego.

Na tentativa de enfrentar o primeiro problema, o governo anunciou que construirá 36 milhões de casas populares no período 2011-2015. Serão 10 milhões por ano em 2011 e 2012 e 16 milhões nos três anos seguintes.

A inflação foi elevada à prioridade número 1 de 2011, lugar que nos últimos anos era ocupado pelo crescimento econômico, ressaltou o ministro. Segundo ele, além de melhorar a oferta de alimentos e suas redes de distribuição, o governo tentará controlar os preços com a diminuição da quantidade de dinheiro em circulação na economia e dos empréstimos concedidos pelos bancos.

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A base monetária chinesa teve expansão de 50% nos últimos dois anos, período no qual os novos financiamentos alcançaram a espetacular soma de US$ 2,5 trilhões (quase metade do PIB do país no ano passado).

Como faz todos os anos, o primeiro-ministro Wen Jiabao prometeu combater de maneira implacável a corrupção, que classificou de "desmedida" em algumas áreas. O líder chinês prometeu ainda criar um sistema "equitativo, aberto e competitivo" de seleção de trabalhadores e um "ambiente social" no qual as pessoas sejam escolhidas por seus méritos _uma referência velada ao peso desempenhado hoje pelas "conexões" com o poder, especialmente o Partido Comunista.

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