No lugar da rede mundial de computadores, os cidadãos comuns usam uma intranet, na qual só podem acessar sites norte-coreanos. A internet é reservada a alguns privilegiados, a diplomatas estrangeiros e jornalistas em visita ao país autorizadas pelo governo. Para viabilizar o trabalho do grupo de repórteres que está em Pyongyang, o governo montou uma sala de imprensa com internet no hotel onde estamos hospedados. Não temos internet no quarto. Como todos os estrangeiros que entram no país, fomos obrigados a deixar nossos celulares no aeroporto.
Os jovens norte-coreanos não sabem o que é facebook ou twitter, não escutam rock, não vão a danceterias nem jogam videogames. Como todos no país, levam na roupa botoms com a imagem de Kim Il-sung, que é venerado como um semi-deus pela propaganda oficial. Quando visitamos a universidade Kim Il-sung na quarta-feira, muitos dos estudantes que estavam diante de computadores na biblioteca liam na tela obras de Kim Il-sung. Essa é a universidade de elite do país, para onde são enviados os melhores estudantes. Kim Il-guang, 30, disse que um de seus websites preferidos na intranet é o dedicado à ideologia Juche concebida, claro, por Kim Il-sung. Ela é o extremo oposto da globalização e prega a auto-suficiência da Coreia do Norte em todos os campos.
Mas o país está longe de andar com as próprias pernas. Durante o período soviético, a Coreia do Norte recebeu generosa ajuda da ex-União Soviética e fazia parte do bloco comunista que se opôs aos americanos na Guerra Fria. Com o desmantelamento da URSS, a economia da Coreia do Norte começou a se desestruturar e um misto de má-gestão, isolamento e desastres naturais levaram à grande fome dos anos 90.
Agora, eles enfrentam uma nova onde de falta de alimentos, que tentam amenizar atraindo doações internacionais _o Brasil vai enviar 5.000 toneladas de feijão ao país. O World Food Program estima que 6 milhões dos 24 milhões de norte-coreanos receberão menos comida do que necessitam em 2001, em parte como consequência do inverno severo. Isso significa que um quarto da população de 24 milhões de pessoas corre o risco de inanição.