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Mundo em Desalinho

Brasileiros ensinam o "ABC" do design gráfico aos chineses

Xangai está a 18,6 mil km de São Paulo, mas é lá que ocorrerá a primeira a primeira Ilustra Brasil fora do Brasil, em um movimento que segue os passos da Bienal Brasileira de Design Gráfico, que também fez o seu début internacional na cidade chinesa, em 2009, onde foi vista por 190 mil pessoas.

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Por claudiatrevisan
Atualização:

A travessia da obra de ilustradores e designers brasileiros para o outro lado do mundo é comandada por Bruno Porto, que navega nas duas artes e atracou em Xangai em 2006, para dar aula de tipografia no Raffles Design Institute, convidado por outro compatriota que continua em terras chinesas, Itamar Medeiros.

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Nos últimos quatro anos, Porto deu aula para cerca de 5.000 alunos, que penaram para aprender a arte da tipografia em letras latinas, tão distintas dos caracteres que integram a escrita chinesa. "Sem o domínio da tipografia, o design gráfico chinês não conseguirá dialogar com o mundo", sustenta Porto.

Fora da academia, ele se tornou um agitador cultural, com a realização de exposições que promovem o design gráfico brasileiro na China. A mais recente _"Dois Anos em Cartazes", que está na The Foundry Gallery em Xangai_ reúne trabalhos do próprio Porto, que acabam sendo uma narrativa das atividades relacionadas à cultura nacional realizadas na China e região, como a semana de cinema brasileiro no Vietnã. "O Brasil ainda é uma incógnita para os chineses e os escritórios brasileiros de design gráfico não têm um olhar para o exterior, para a exportação desse serviço", diz Porto.

O pernambucano Itamar Medeiros foi o pioneiro na trajetória de designers gráficos brasileiros que atravessaram o mundo para ajudar a criar profissionais chineses nessa área. Em 2005, foi contratado pelo Raffles de Xangai para dar aulas de design de interação, no departamento de multimídia. No ano seguinte, Medeiros convidou Porto e Billy Bacon para integrarem a equipe de professores. Bacon voltou ao Brasil um ano e maio mais tarde e, em 2008, a brasileira Sarah Stutz chegou à instituição, por indicação de Porto.

Hoje, nenhum deles está na academia. Depois de criar a comunicação visual do Primeiro Festival de Música Eletrônica da China, que ocorreu no início do mês, Stutz começou a contagem regressiva para voltar ao Brasil. Porto tirou um ano sabático para se dedicar a projetos pessoais e Medeiros trocou a academia pela empresa de software Autodesk, onde dirige o setor de experiência do usuário do AutoCAD, o programa mais usado no mundo por arquitetos e engenheiros para a realização de projetos.

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Os três são unânimes em afirmar que a China tem um longo caminho a percorrer no desenvolvimento de design gráfico e apontam a falta de criatividade como a principal deficiência do país. "A educação aqui é como a do Brasil há 50 anos. O melhor aluno é o que consegue reproduzir na prova exatamente o que o professor falou. Há um desestímulo ao pensamento criativo", observa Medeiros, que é representante em Xangai da Interaction Design Association (IxDA).

Stutz aponta uma dificuldade adicional, que é o fato de o design gráfico ter sido construído a partir da história da arte e de vanguardas ocidentais, que até pouco tempo eram totalmente alheias aos chineses. "Não existe ainda o design gráfico chinês. Eles precisam criar essa identidade para poder aceitar a criação estrangeira."

A primeira mostra que apresentou o design brasileiro em Xangai foi o Dingbats Brasil, realizado em 2009 sob a curadoria de Porto, com uma segunda edição em 2010. Dingbat é o nome "científico" para pequenos símbolos gráficos, o mais popular dos quais talvez seja a onipresente carinha sorridente.

Na seleção das obras, Porto elegeu as que eram representativas da cultura brasileira, como uma série inspirada no movimento Mangue Beat e outra com referências ao folclore popular. No mesmo ano, a Bienal Brasileira de Design Gráfico viajou pela primeira vez ao exterior e foi vista por 190 mil pessoas em Xangai e 10 mil em Pequim _a mostra tinha 238 projetos de 100 profissionais.

A ilustração tupiniquim será apresentada aos chineses em agosto, no Ilustra Brazil (com z), uma versão internacional do evento que há sete anos é organizada pela Sociedade de Ilustradores Brasileiros. "A ideia é trazer ilustrações brasileiras sobre o Brasil", diz Porto. Serão 100 obras, acompanhadas de palestras e workshops com o cartunista Orlando Pedroso e o ilustrador Marcelo Martinez. Também haverá exibição de animações, desenhos, vinhetas e comerciais.

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A ideia agora não é só mostrar, mas também vender a criação brasileira. Para isso será realizado um seminário de negócios com potenciais compradores, como editores e representantes de jornais e revistas. "Nós queremos sensibilizar o mercado chinês para a ilustração brasileira", ressalta Porto.

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