Território dos gatos

  Ana Paula Garrido - O Estado de S.Paulo O nome quarto das crianças, como foi apelidado, condiz com a realidade. Cada canto foi planejado caprichosamente para se tornar um lugar de lazer para seus moradores ? dois gatos persas que dividem o espaço com dois cachorrinhos. ?Como conviveu com cachorro desde sempre, o Bartolomeu até se assustou quando viu outro gato?, conta a oftalmologista Márcia Motono, moradora do Campo Belo. A forte relação com os bichos ? ela já teve galinha, coelho, hamster e até um peru ? motivou Márcia a mudar de um dúplex para este apartamento, já que um dos cachorros, que morreu há 8 meses, não conseguia mais subir as escadas. Aproveitando o espaço maior, transformou o escritório em um quarto todo deles. ?Ela contou qual era a rotina de seus bichos de estimação, do que gostavam de fazer e criamos os móveis pensando unicamente neles?, explica a arquiteta Adriana Lopes, da Linea Mobili, responsável pelo projeto. As prateleiras de MDF colocadas em alturas diferentes são para eles pularem de uma para outra. O móbile de cristal, com moldes de gatos de madeira, até faz um barulhinho de que eles gostam. E a tela de proteção, em todas as janelas, tem um entrelaçamento menor que a usada em quarto de criança. O desafio de criar pela primeira vez um projeto para os felinos teve uma vantagem. ?Como esses gatos não têm unhas, tivemos uma liberdade maior de materiais?, conta Adriana. Enquanto móveis sob medida eram desenvolvidos, como a caixa com buracos por onde eles podem entrar, Márcia tratava de preparar o enxoval para o quarto novo. ?Eu mesma pintei os potes de comida, imitando o desenho do papel de parede.? Manter a boa vida dos bichanos dá trabalho e custa caro, segundo ela. A oftalmologista calcula gastar R$ 600 por mês com eles. ?Isso fora veterinário, vacina e a babá.? A babá é Severina, que cuida dos bichos de Márcia há 11 anos. É ela quem ajuda a manter a casa livre de pelos. Para isso, aspirador de pó todo santo dia. No chão, só água, álcool e vinagre, já que um dos gatos tem asma e fica com falta de ar com o cheiro de desinfetante. Tanta dedicação vale a pena? ?Quando chego em casa e eles vêm brincar, esqueço todo o resto. É uma alegria que não tem preço.? Tudo para eles Clarissa Klein não sabe dizer não para seus quatro gatos. Tanto que abriu mão do closet em seu apartamento, em São Bernardo do Campo. ?Por ser proibido, era onde eles mais gostavam de ficar. Daí resolvi deixar para eles de vez?, conta. ?A roupa fica toda amontoada no meu quarto.? Os módulos de plástico que acomodavam sapatos hoje abrigam as caminhas. Para manter o apartamento em ordem, Clarissa dá uma dica: a areia da caixa precisa ser de qualidade. ?Senão o cheiro fica muito forte.? Quanto ao uso, não se preocupe. Mesmo adultos, eles aprendem a fazer as necessidades no local certo.     ?Ele vai escolher onde dormir? Os donos dos bichanos podem se dedicar a criar espaços exclusivos para eles, mas gatos não precisam de tanto zelo, dizem especialistas. ?Um quarto só para o gato não é fundamental, certamente ele é que escolherá onde quer ficar, em qual cama quer dormir?, avisa a professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP Mitika Hagiwara. A adestradora e consultora comportamental da Cão Cidadão, Claudia Terzian também não vê necessidade de um cômodo exclusivo para os felinos, analisando outro ponto de vista. ?Embora as pessoas achem o contrário, os gatos são sociais e ficam a maior parte do dia atrás do dono. Então, se o dono ficar em casa, eles não vão usar muito um quarto, só como área de descanso mesmo.? De acordo com a professora Mitika, cuidados básicos, como providenciar a caixa com areia sanitária para as necessidades e colocar água e ração ao alcance deles, já são suficientes para que os felinos se sintam bem. ?Se for em apartamento é interessante telar as janelas e balcões para evitar acidentes?, completa. Cuidado com as unhas Arranhadores também são úteis, como explica Claudia. ?Quando eles se espreguiçam, vão afiando as unhas neles e isso evita arranhar o sofá.?  Até fevereiro de 2008, quando o Conselho Federal de Medicina Veterinária proibiu as cirurgias estéticas em animais, a operação para retirar as unhas dos gatos era permitida no País. "No Brasil não pode mais, mas nos Estados Unidos é uma prática comum até hoje ", conta a veterinária do Pet Center Marginal, Andreia Lordelo, que não vê problemas em aparar as unhas dos felinos, "desde que haja cuidado" para não atingir nenhum vasinho sanguíneo. "Há também quem coloque unhas de silicone para evitar que os gatos danifiquem os móveis", complementa Andreia. A oftalmologista Márcia Motono usa essa capinha de silicone em um dos seus gatos. Outra dica é ter móveis altos em casa para eles ficarem, já que gostam de olhar o território do alto. Aproveite para colocar petiscos nas prateleiras ? assim ele come frequentemente, sem ficar obeso, já que também vai se exercitar para buscar a comida. Atualizado em 14/5/2012, às 16:40