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Arquitetura, decoração e design

Sempre é tempo de brincar

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Por Ana Garrido
Atualização:

    Ana Paula Garrido - O Estado de S.Paulo Leva-se bastante tempo para reunir uma coleção como a do DJ Pil Marques. Aos 38 anos, ele diz ter o hábito de guardar objetos ?desde sempre?. Mas dá para arriscar que tudo começou com ele garoto, quando juntava adesivos para seu skate. ?Depois foram os super-heróis?, conta. Aos poucos, a lista de coisas colecionáveis foi sendo ampliada e ganhando ares de ?gente grande?. Entraram móveis e peças de design vintage, mas Marques não abandonou o gosto pelo lúdico, como se percebe pelos patinhos de borracha que tomam conta do banheiro e invadem a suíte do outro morador, com quem ele divide o apartamento, na Bela Vista, região central de São Paulo. ?Chegou um ponto em que me tornei compulsivo. Para amenizar a culpa, abri uma loja e descobri que gosto mesmo é de garimpar, para mim ou para os outros?, afirma. Para achar objetos dignos de integrar a variada coleção, o tempo é bem relativo. Ora a descoberta pode ser instantânea, como aconteceu com a tábua de cozinha encontrada nos Estados Unidos, que Marques transformou em um quadro ? ?não vou usar para cortar carne?. Ora, levar meses: para reunir os bonecos dos integrantes do Kiss, foram exatos três anos de buscas. A primeira vez que viu um estava em Miami, mas achou que seria um exagero. ?Pensei: ?tem de ser muito fã?.? Depois viu mais exemplares em Amsterdã, em Nova York e em outros vários lugares por onde se apresentava. ?Daí me deu vontade de ter um também.? Porém, como a edição era limitada, Marques precisou de dedicação e paciência para completar a banda. ?De uma vez, achei três na Holanda. Comprei um outro, mas a loja não entregou. Foi uma saga até ter todos.? Tamanho trabalho de ?caça? mereceu destaque ? onde colocá-los definiu o projeto ? na decoração feita por Guilherme Torres. A ideia do arquiteto, que é amigo de Marques, era dar só uma repaginada no apartamento, tarefa que ele concluiu em quatro dias. ?Como ele já tinha peças bacanas, não precisava fazer muitas coisas. Adoraria ter mais projetos assim, onde há bastante cultura e relação emocional do proprietário com os objetos?, diz. Durante a rápida intervenção, que virou um mix de seleção, exclusão e organização, algumas das poucas peças que Torres trouxe de fora também já chegaram com uma história. Caso do tapete. ?Era da minha casa, mas meu cachorro mordia o tempo todo, ficou melhor aqui?, conta Torres, que expôs até mesmo objetos gastos, justamente para reforçar a passagem do tempo. ?O sofá detonado tinha uma capa por cima. Achei melhor tirar e mostrar como ele realmente é.? O arquiteto separou as peças por tema na hora da organização. ?Tem o canto das bolas, dos bonecos japoneses, dá um toque de humor.? A tinta da Sherwin Williams (a 6877 Inner Child) foi escolhida para ser o elo entre os elementos. ?Sempre uso base branca com coisas coloridas, mas aqui precisou de uma ?cola? para segurar tudo. Por ter muita coisa avermelhada, preferi um tom azul para dar uma cara vintage, de anos 70?, diz. A decoração, que está mais para uma curadoria, como diz o morador, revelou peças mal usadas havia tempos. Comprada em Amsterdã, a cortina com rapazes na praia que hoje alegra o banheiro esteve anos guardada. Assim como uma foto de Marques criança, no quarto. ?Estava escondida, tinha vergonha de mostrá-la?, conta o DJ. No quarto, aliás, estão algumas de suas relíquias, como os bonecos de Os Trapalhões e de Michael Jackson e John Travolta, estes mantidos na embalagem. ?Ninguém nunca os tirou da caixa e eu também não vou?, diz. O projeto de Torres acabou tendo um forte impacto para Marques, que durante os dias de arrumação nem ficou em casa. ?Como não podia contestar, saía para tomar um ar.? Talvez justamente isso tenha levado a um certo desapego. ?Ele arrumou a casa e a vida. De acumulador virou colecionador?, orgulha-se o arquiteto.    

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